Há muito se cogita uma eventual saída da Grécia da Zona do Euro. Em princípio, vimos os esforços das autoridades e instituições da União Europeia em buscar soluções para o problema apresentado. Aos poucos se tornava claro que os esforços pretendiam ganhar tempo para "descontaminar" o sistema bancário e eliminar mecanismos de contágio que pudessem ser reconhecidos e desconstruídos. O peso imposto à população Grega esgarçou seu tecido político fazendo aparecer fragilidades, novos partidos e novas lideranças.
Mas, não apenas a Grécia viu seu tecido político alterado. Foram várias as lideranças que pagaram com seus cargos pelo peso do ajuste e mais recentemente vimos alterar a parceria Merkel - Sarkozy na condução dos rumos políticos e de política econômica na União Europeia. Enquanto cidadãos respiravam aliviados, o mercado reagiu com força, derrubando bolsas e através de fuga de capitais.
Ao longo de todo este tempo, dei entrevistas afirmando que a Grécia não sairia da Zona do Euro. Sua saída representa uma auto exclusão da União Europeia a pedido da Grécia. Contabilizei entre as perdas as futuras dificuldades nas parcerias comerciais dentro e fora do bloco. Atualmente 79,1% das exportações da Grécia se destinam à Europa (fonte: Euromonitor). As tarifas comuns representam para a Grécia um enorme mercado para os seus produtos. Alem disso, contaram para efeito de meu exercício futurista a manutenção de uma dívida em Euros e o acesso a financiamentos da União Europeia. Acreditei que as notícias de uma possível saída da Grécia se relacionavam mais fortemente com oportunidades especulativas do que com o fato em si.
Na visita que realizamos no início do ano à Europa, ouvimos depoimentos que reforçaram minha crença na manutenção da Grécia na Zona do Euro. Em que pese declarações contundentes sobre o ônus do pagamento do elevado endividamento Grego, grande parte das declarações afirmava a esperança de um calote grego sem a saída da Grécia da comunidade europeia.
Contudo, o vácuo político decorrente das impopulares medidas de ajuste mostrou que mesmo corretas medidas de ajuste econômico enfrentam limites políticos. Diante da impossibilidade de construção de um consenso e um governo de coalizão, novas eleições são esperadas para junho deste ano. Mais do que isso, as eleições convocadas estão sendo percebidas como um referendum à saída ou permanência da Grécia. Assim, como nem sempre a racionalidade econômica determina os rumos e as escolhas sociais e políticas, penso que posso estar deixando escapar elementos importantes na definição do rumo da Grécia. Parece-me claro que há um profundo descontentamento em relação às medidas impostas e muita mágoa e ressentimento associados a estas. No entanto, o retorno à antiga moeda - o dracma- evoca memórias de inflação que a grande maioria dos Gregos rejeita. Há, portanto, uma dor transformadora na sociedade grega que pode levá-los a solicitar sua exclusão da Zona do Euro se os Gregos apostarem que uma solicitação ao Conselho Europeu restauraria sua participação na União Europeia e a manutenção dos acordos comerciais.
Vejo hoje, portanto, uma pequena, diminuta possibilidade de saída da Grécia da Zona do Euro.