- A crise econômica e política parece que só se agrava.Existe uma saída?
Sim. Existe. Precisamos equilibrar as contas externas e voltar a ter superavit primário de forma a estabilizar o crescimento da dívida. Além disso é necessário conduzir o índice de preços para o centro da meta. São medidas duras e que reduzem o poder de compra dos brasileiros (com exceção para o controle inflacionário).
A economia opera de forma cíclica. Não é possível crescer sempre e sem oscilações. Infelizmente, existe saída para situações de desaceleração e também para as situações de crescimento.
Contudo, as relações entre a economia e a política são desastrosamente próximas. Criar um clima de confiança é condição para um cenário de crescimento econômico com investimentos produtivos. As expectativas tanto quanto as profecias são verdadeiros perigos. Profetizar ou esperar que o preço do dólar suba, por exemplo, leva diversos agentes econômicos a antecipar a compra de moeda estrangeira e a se proteger do aumento comprando dólares, de forma que seja inevitável que a profecia se concretize. Da mesma forma opera a expectativa em relação ao nível de preços. A expectativa de um aumento no nível de preços pode levar diferentes players do mercado a praticar elevações de preços de forma a materializar a expectativa. Construir a confiança é parte essencial da política econômica.
Já a lógica política é muito mais complexa e pouco previsível. A cada ação, alteram-se os resultados para os diferentes players e alteram-se suas escolhas. Não há como prever o resultado final.
- O Brasil está ficando cada vez mais arriscado e afastando o investidor estrangeiro?
Temos dois grupos de investidores estrangeiros. Os que investem na produção de bens e serviços no Brasil e aqueles que buscam otimizar sua carteira de ativos atraídos por ganhos de juros e pela variação da taxa de cambio. A desaceleração econômica desencoraja o primeiro grupo. Menor expectativa de ganhos leva os investidores a explorar outros mercados. Mas, a percepção de risco institucional, risco político e patrimonial também podem afastar esse investidor. Mas, o aumento no risco afasta essencialmente investimentos especulativos.
Essa crise vai passar, mas não nos próximos 3 anos?É difícil precisar o fim desta situação. Mas, acredito que um ajuste bem feito pode ser bastante rápido. A recuperação do cenário externo é essencial para diminuir o tempo do ajuste. Com uma economia internacional em recuperação o tempo do ajuste pode se resumir em um ano. Contudo, na ausência de uma reversão no quadro externo, as medidas recentes se desdobram e a desaceleração pode ser um longo processo. Explico. Um corte de gastos tem impacto recessivo. A diminuição no nível de atividade, medido pelo PIB, diminui a arrecadação de impostos e torna necessário novo corte de gastos ou aumentos nos impostos. Mas, novamente as medidas contracionistas levam a uma desaceleração do crescimento e da arrecadação.
- Qual a sua avaliação?
Minhas premissas
Parto do princípio de que o Desenvolvimento Social é um componente vital e deve se constituir como objetivo de toda a sociedade. E de que é ingenuidade esperar o desenvolvimento social como resultado residual do crescimento econômico.
Meu diagnóstico
Hoje o que vemos é um esgotamento do crescimento puxado por gastos públicos e consumo das famílias. Gastos de investimento passam a ser a variável chave em uma economia com forte preferência por consumo presente. Mas, a situação atual não é resultado apenas do esgotamento do modelo de crescimento. Internamente, o crescimento das despesas públicas (12%) acima do crescimento das receitas (4%), determinaram a necessidade de um ajuste fiscal. Já o comportamento do preço das commodities, a expectativa de reversão da política monetária norte americana e o crescimento do custo unitário do trabalho (ULC-US$) de 62,8 em 2004 para 140,6 em janeiro de 2015, definiram a necessidade de ajuste na taxa nominal de cambio de forma a reequilibrar as contas externas.
Conclusões
A combinação de ajuste interno e externo alimenta as expectativas de crescimento econômico negativo em 2015 com inflação. É um cenário de deterioração do poder de compra. E isto tem consequências políticas. Este é um momento delicado e que exige posições fortes que possam garantir um projeto de desenvolvimento econômico de longo prazo. Evitar a instabilidade política, garantir o funcionamento do mercado e corrigir os desequilíbrios são condições para a retomada da trajetória de crescimento.
Sim. Existe. Precisamos equilibrar as contas externas e voltar a ter superavit primário de forma a estabilizar o crescimento da dívida. Além disso é necessário conduzir o índice de preços para o centro da meta. São medidas duras e que reduzem o poder de compra dos brasileiros (com exceção para o controle inflacionário).
A economia opera de forma cíclica. Não é possível crescer sempre e sem oscilações. Infelizmente, existe saída para situações de desaceleração e também para as situações de crescimento.
Contudo, as relações entre a economia e a política são desastrosamente próximas. Criar um clima de confiança é condição para um cenário de crescimento econômico com investimentos produtivos. As expectativas tanto quanto as profecias são verdadeiros perigos. Profetizar ou esperar que o preço do dólar suba, por exemplo, leva diversos agentes econômicos a antecipar a compra de moeda estrangeira e a se proteger do aumento comprando dólares, de forma que seja inevitável que a profecia se concretize. Da mesma forma opera a expectativa em relação ao nível de preços. A expectativa de um aumento no nível de preços pode levar diferentes players do mercado a praticar elevações de preços de forma a materializar a expectativa. Construir a confiança é parte essencial da política econômica.
Já a lógica política é muito mais complexa e pouco previsível. A cada ação, alteram-se os resultados para os diferentes players e alteram-se suas escolhas. Não há como prever o resultado final.
- O Brasil está ficando cada vez mais arriscado e afastando o investidor estrangeiro?
Temos dois grupos de investidores estrangeiros. Os que investem na produção de bens e serviços no Brasil e aqueles que buscam otimizar sua carteira de ativos atraídos por ganhos de juros e pela variação da taxa de cambio. A desaceleração econômica desencoraja o primeiro grupo. Menor expectativa de ganhos leva os investidores a explorar outros mercados. Mas, a percepção de risco institucional, risco político e patrimonial também podem afastar esse investidor. Mas, o aumento no risco afasta essencialmente investimentos especulativos.
Essa crise vai passar, mas não nos próximos 3 anos?É difícil precisar o fim desta situação. Mas, acredito que um ajuste bem feito pode ser bastante rápido. A recuperação do cenário externo é essencial para diminuir o tempo do ajuste. Com uma economia internacional em recuperação o tempo do ajuste pode se resumir em um ano. Contudo, na ausência de uma reversão no quadro externo, as medidas recentes se desdobram e a desaceleração pode ser um longo processo. Explico. Um corte de gastos tem impacto recessivo. A diminuição no nível de atividade, medido pelo PIB, diminui a arrecadação de impostos e torna necessário novo corte de gastos ou aumentos nos impostos. Mas, novamente as medidas contracionistas levam a uma desaceleração do crescimento e da arrecadação.
- Qual a sua avaliação?
Minhas premissas
Parto do princípio de que o Desenvolvimento Social é um componente vital e deve se constituir como objetivo de toda a sociedade. E de que é ingenuidade esperar o desenvolvimento social como resultado residual do crescimento econômico.
Meu diagnóstico
Hoje o que vemos é um esgotamento do crescimento puxado por gastos públicos e consumo das famílias. Gastos de investimento passam a ser a variável chave em uma economia com forte preferência por consumo presente. Mas, a situação atual não é resultado apenas do esgotamento do modelo de crescimento. Internamente, o crescimento das despesas públicas (12%) acima do crescimento das receitas (4%), determinaram a necessidade de um ajuste fiscal. Já o comportamento do preço das commodities, a expectativa de reversão da política monetária norte americana e o crescimento do custo unitário do trabalho (ULC-US$) de 62,8 em 2004 para 140,6 em janeiro de 2015, definiram a necessidade de ajuste na taxa nominal de cambio de forma a reequilibrar as contas externas.
Conclusões
A combinação de ajuste interno e externo alimenta as expectativas de crescimento econômico negativo em 2015 com inflação. É um cenário de deterioração do poder de compra. E isto tem consequências políticas. Este é um momento delicado e que exige posições fortes que possam garantir um projeto de desenvolvimento econômico de longo prazo. Evitar a instabilidade política, garantir o funcionamento do mercado e corrigir os desequilíbrios são condições para a retomada da trajetória de crescimento.