"Right now, our focus is restoring the strength of our financial system so it can again finance economic growth. The financial security of all Americans – their retirement savings, their home values, their ability to borrow for college, ...”
Paulson (Secretário do Tesouro)
O Presidente Bush solicitou na última semana uma autorização do Congresso para utilizar a soma acima na compra de ativos podres como forma de conter uma crise sistêmica[1].
A ação de contenção só faz sentido se rememorarmos os eventos recentes: Freddie Mac e Fannie Mae[2] e Lehman Bank[3]. Somam bilhões de dólares em perdas para americanos e investidores estrangeiros. Dentre estes, alguns bancos internacionais.
Seguramente, a crise reflete a ausência de regulação. E, com esta, a responsabilidade do Estado-Nação responsável pela oferta monetária do meio de troca aceito mundialmente.
A falência de Instituições Norte Americanas arrasta consigo mercados em todos os continentes. Na tentativa de minimizar perdas e honrar compromissos, talvez adiando o inadiável, grandes fundos resgatam suas aplicações derrubando preços de títulos, ações e fazendo oscilar fortemente taxas de câmbio.
Trata-se, portanto, não apenas de uma ação de contenção da crise para evitar seu impacto sobre o mercado doméstico. Mais do que isso, é uma tentativa de restringir a crise ao mercado nacional, absorvendo seu impacto com recursos do Tesouro.
Esta opção se explica se compreendermos a independência do Federal Reserve e as possibilidades de ação da Casa Branca. Há algum tempo o Banco Central Americano, vem fazendo operações de redesconto com taxas não punitivas para tentar amenizar a crise. Quando um banco central realiza operações deste tipo, ele está aumentando seu ativo e, conseqüentemente seu passivo monetário. Em outras palavras, há aumento na base monetária. Por maior que sejam os questionamentos em torno da Teoria Quantitativa da Moeda[4], há consenso acerca da equação de trocas[5]. O aumento contínuo na base monetária, quando não acompanhada por um aumento proporcional na quantidade de bens e serviços produzidos implica em aumento no nível de preços e/ ou uma substancial redução na velocidade de circulação da moeda, normalmente acompanhada de uma redução na taxa de juros.
Esta seria uma opção possível.
A escolha em utilizar recursos do Tesouro se explica em primeiro lugar pelo desenho Institucional Norte Americano. Ao presidente dos Estados Unidos não é possível definir a forma de atuar do Federal Reserve. Impotente acerca da definição da Política Monetária adequada ao momento, a Casa Branca pode e recorreu ao Congresso, solicitando utilizar recursos do tesouro no montante de US$ 700 bilhões de dólares para adquirir os ativos chamados “podres” [6]. Enquanto a fonte de recursos do Fed é, em última instância a emissão monetária, a fonte do Tesouro é a receita tributária. Poderíamos estar falando portanto, da utilização de recursos orçamentários que poderiam ser destinados ao Sistema de Saúde, a gastos militares, a despesas na área de Educação. Contudo, desde o segundo trimestre de 2001, o governo americano não gera superávit em suas contas. Somente no ano de 2007 a necessidade de financiamento totalizou US$ 1.597,5 bilhões de dólares e para os dois primeiros trimestres do ano de 2008 foram de US$ 1.376,6.
Receitas e Gastos Correntes do Governo
Fonte: Bureau of Economic Analisys
Trata-se, portanto, de um aumento nas necessidades líquidas de captação do Tesouro que devem ampliar a dívida interna que alcança a cifra assustadora de US$ 9 trilhões, setecentos e vinte e sete bilhões de dólares.
Fonte: www.treasurydirect.gov
Isto ocorre em cenário pré eleições, onde os candidatos Republicano e Democrata defendem uma política fiscal expansionista com cortes tributários[7]. Se implementadas, e não acompanhadas por aumentos no nível de atividade, devemos nos perguntar, quem estará financiando o desequilíbrio orçamentário nas contas públicas norte-americanas ou ainda, quem financiará a expansão no endividamento público? Mais do que isso, como tornar real a intenção do Secretário do Tesouro e voltar a financiar o crescimento na ausência de fundamentos macroeconômicos mais sólidos?
[1] Crise Sistêmica: Reflete a idéia de uma crise associada a um sistema, no caso o Sistema Financeiro.
[2] Apenas estas duas empresas são responsáveis por US$ 5,3 trilhões em financiamentos.
[3] Quarto maior banco norte americano.
[4] A teoria quantitativa da moeda estabelece uma relação de causa e efeito transformando a equação de trocas, esta definicional, em M.V = P. Y. Onde, o lado direito da equação corresponde ao produto nominal bruto , Y denota o produto real, e o lado esquerdo da equação representa o produto do estoque monetário pela velocidade renda de circulação da moeda. De acordo com a teoria, tanto o produto real quanto a velocidade renda tendem a ser estáveis no curto prazo. Portanto, aumentos no estoque monetário levam a aumentos no nível de preços.
[5] M.V = P.Q
[6] Chamamos de ativos podres aqueles em que há baixa probabilidade de resgate integral do valor aplicado.
[7] A proposta Republicana está em cortar Taxas Corporativas tornando setores produtivos mais competitivos e a proposta Democrata defende cortes tributários para pessoas físicas, ampliando sua capacidade de consumo.
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