domingo, 11 de setembro de 2011

11 de setembro

A Teoria da Hegemonia Internacional (Hegemonic Stability Theory) sugere que o sistema internacional é mais estável quando um único Estado-Nação é ou possui um poder ou dominância mundial. Não é possível encontrar ou adjetivar uma nação com a palavra hegemonia quando esta perde a habilidade de garantir sua segurança geopolítica. Também estão associados à condição hegemônica o crescimento, o tamanho e a supremacia militar ou tecnológica. O poder de liderar, promover regras internacionais através da habilidade política sustenta-se no mútuo interesse ou apóia-se na força militar projetiva.


A hegemonia de uma Nação não depende apenas de sua vontade de liderar, mas de sua capacidade de demonstrar meios para fazê-lo. Desta forma, o ataque de 11 de setembro rompe com paradigmas de força, de poder militar, de segurança nacional e, conseqüentemente ameaça a idéia de hegemonia americana e a estabilidade das relações internacionais.

A necessidade de recuperar e manter este símbolo, entre outros fatores, explicam o início de ações militares como a Guerra do Iraque. A ampliação da necessidade de financiamento dos gastos públicos decorrente de gastos elevados com as ações militares implicou em elevação do grau de endividamento dos EUA com conseqüente desregulamentação financeira que permitiu o financiamento de déficits domésticos e externos crescentes.

O governo americano apresentava até o terceiro trimestre de 2001 resultados positivos de poupança líquida e de capacidade ou necessidade líquida de financiamento. Após esse período, observam-se resultados trimestrais negativos, no conceito corrente, indicando uma crescente necessidade de financiamento (fonte: www.bea.gov). Os dados mostram o agravamento da situação das contas públicas a partir de 2001, o esforço em recuperá-las e o agravamento após 2008.

Somou-se à necessidade de financiamento interno a necessidade de equilibrar as contas externas.

O desequilíbrio externo pode ser explicado em grande parte pelo crescente desequilíbrio comercial com a China. Com base neste diagnóstico iniciam-se pressões da diplomacia americana por uma valorização do Yuan ; lembrando que os EUA não possuem a possibilidade de alterar sua taxa de câmbio por ser emissor da moeda de reserva mundial. A desvalorização ou valorização do dólar depende da ausência de reação dos demais países.

Em julho de 2003, a China anunciava sua intenção em alterar a composição de suas reservas trocando parte de suas aplicações em ativos denominados em dólar para ativos denominados em euro. Em 2004, a China concretiza sua intenção alterando a composição de suas reservas.

A desvalorização do dólar e a ameaça subjacente de sucessivas alterações na composição das reservas chinesas resultaram em equivalentes alterações nas políticas de aplicação de reservas em diversos países. A queda na demanda por dólares resultante desta escolha acelerou a desvalorização do dólar.

Em resposta à desvalorização do dólar, a partir de 2004, podemos ver crescer as taxas de juros Americanas passando de um por cento para mais de cinco por cento. O rápido aumento das taxas de juros implicava em dificuldades crescentes de pagamento de dívida contraída pelo setor privado.

No segmento de hipotecas, o elevado custo de financiamento combinado com as especificidades desta modalidade elevou a inadimplência e resultou na crise de 2008. Ressalve-se que a crise, sua proporção e contágio devem-se à ausência de regulamentação e supervisão integrada do sistema financeiro.

Para socorrer as Instituições Financeiras o Federal Reserve ampliou as possibilidades de redesconto de liquidez e reduziu a taxa de juros. Como conseqüência a rentabilidade das aplicações em títulos americanos se reduziu. Na reunião do G20 de 2009 discutia-se a desvalorização do dólar, as práticas de desvalorização competitiva e a necessidade de criação de uma moeda de reserva supranacional.

Em resumo, as ações de reação e fortalecimento da hegemonia norte-americana implicaram em descontrole fiscal e condicionaram a condução da política monetária resultando em conflitos e crise.

Como mencionado antes, os gastos com as ações no Iraque e Afeganistão impuseram custos crescentes ao Estado Americano ampliando seu déficit e seu endividamento. A venda crescente de títulos da dívida exigia demanda crescente. Parte da demanda por estes ativos, considerados seguros, se encontrava na “indústria” de derivativos. Esta, por sua vez, se associa à crise de 2008 e seus desdobramentos.

O cenário atual é o resultado de escolhas insustentáveis de política fiscal relacionadas a problemas estruturais como produtividade e competitividade e a problemas conjunturais como a queda na arrecadação relacionada à queda na produção resultante da crise de 2008.

Países competem e utilizam medidas de política macroeconômica e microeconômica em apoio à suas atividades produtivas. Países cooperam e realizam parcerias através de acordos bi e multilaterais.

A atual situação mostra a necessidade de coordenação das Políticas Monetárias.

Mostra ainda os limites fiscais dados pelo crescente endividamento e os limites para ações particularizadas. O grau de contágio e a velocidade com que processamos as perdas e ganhos tanto quanto a grandiosidade dos fluxos financeiros mostra as limitações no uso de instrumentos tradicionais de política monetária, fiscal e cambial. Torna-se necessária a reestruturação da dívida mundial.

Assim, a cooperação para a reestruturação das dívidas e para a definição de equivalências cambiais é necessária para uma maior estabilidade política.

Acordos bilaterais ou regionais de comércio podem servir de estímulo ao comércio, à produção e ao emprego em detrimento dos instrumentos keynesianos de política econômica. No entanto, cooperar implica também em ceder. É a dificuldade nas negociações e na construção de uma agenda positiva para o comércio entre nações que justifica o uso de instrumentos de política monetária e fiscal.

O momento atual mostra os limites da globalização dados pelos limites geográficos que confinam poder e riqueza e que são conhecidos como Estado-Nação.

O crescente endividamento norte americano resultante em parte da perda de dinamismo desta economia e em parte da necessidade de financiar gastos crescentes pautou na última eleição norte americana a necessidade de uma mudança tributária. As propostas eram antagônicas entre os candidatos. Enquanto McCain propunha um aumento na carga tributária sobre as famílias, Obama propôs um aumento nos encargos sobre as Corporações e Fortunas. No discurso, McCain alertava para a dificuldade em ampliar o esforço tributário de Corporações já pouco competitivas, enquanto Obama apontava para a dificuldade em cobrar mais impostos em um país onde cresce a desigualdade. Portanto, a eleição de Obama responde à necessidade de financiamento crescente com um tom populista e ineficaz no sentido de corrigir o problema herdado.

Quanto à Crise do Euro, conforme mencionado anteriormente, as opções fiscais combinadas com a crise de 2008 e as reações de estimulo fiscal e monetário expuseram a fragilidade da união monetária entre países com profundas diferenças fiscais e produtivas.

Herdamos do 11 de setembro uma seqüência de eventos e decisões que redesenham a ordem econômica mundial e que, pela via financeira, desestrutura a organização produtiva nos espaços nacionais exigindo um esforço crescente de cooperação.



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