Pelo adiantado da hora, não vou me estender no assunto.... Mas, eu não poderia deixar de postar algumas palavras sobre o impasse Geithner e o teto da dívida americana.
O assunto se arrasta desde o início do ano.... Em verdade, o limite de endividamento foi alcançado a passos rápidos e, recentemente, agências de classificação de risco alertaram para o fato.
Em bom português, isso significa que o Governo Americano não possui recursos tributários para fazer o pagamento de seus compromissos (entre estes o pagamento de benefícios,manutenção da máquina pública, etc...). O déficit tem sido financiado com a emissão de títulos da dívida. Diversos países e o próprio Federal Reserve compram estes títulos. No entanto, ao atingir o limite de endividamento, ao Governo Americano resta a alternativa de começar a suspender e a atrasar pagamentos diversos. Outra alternativa é adotar um pacote de medidas como o pacote aprovado pelo parlamento Grego. Essas medidas são consideradas contracionistas por seu efeito sobre o nível de atividade. Cortes nos gastos públicos e elevação tributária resultam em uma diminuição dos gastos agregados (consumo, despesas de investimento produtivo, gastos públicos, exportações líquidas). As empresas reagem reduzindo a produção face à dificuldade em realizar vendas. Produzindo menos, são necessários menos trabalhadores. Portanto, as consequencias são uma redução no nível de atividade e aumento na taxa de desemprego! Como os Estados Unidos ainda lutam para se recuperar da crise de 2008, as medidas contracionistas são mais do que indesejadas!
Ciente dos resultados, Geithner vem alertando o Governo Americano, desde o início do ano, que é necessário ampliar o limite de endividamento. Diante da ausência de resposta, o secretário ameaça colocar seu cargo à disposição. Esta é uma pauta importante para esta semana; pois a autorização e elevação do limite de endividamento podem permitir expansão na oferta monetária com consequente redução da taxa de juros (se adquiridos pelo FED) ou forçar uma queda no preço dos títulos resultando em elevação da taxa de juros.
Semana difícil para nomes que começam com a letra G.....
quinta-feira, 30 de junho de 2011
segunda-feira, 27 de junho de 2011
Decrescimento Econômico
A ciência econômica estuda a organização social da produção e sua distribuição. Nesse sentido, estuda o comportamento do homo economicus da mesma forma como os biólogos estudam o comportamento e a organização de diferentes espécies.
Aproveitando a proximidade com a biologia, sabemos que há pouco tempo foi descoberta na África do Sul uma bactéria que vive isolada em seu ecossistema: a D.audaxviator. É a única espécie viva de que temos notícia que é capaz de viver em completo isolamento. Uma vida auto-suficiente . Essa informação foi extraida do livro "A curiosa marcha dos grilos canibais" de Fernando Reinach.
A humanidade, como diversas outras espécies animais, necessita de outros seres vivos para garantir sua sobrevivência. É do nosso envolvimento e exploração de nosso ecossistema que organizamos nossa sobrevida. Exploramos, cultivamos, processamos, criamos, produzimos, distribuímos, reaproveitamos e consumimos garantindo dessa forma nossa sobrevivência.
Nosso polegar opositor conjugado a um cérebro desenvolvido nos permitiu criar formas de produzir, dividir o trabalho e organizar a produção não apenas para garantir nossa sobrevivência, mas também para garantir nosso bem estar entendido aqui como qualidade de vida seja o que este termo significar para você.
No entanto, somos forçados a reconhecer que os recursos são escassos se quisermos atender aos ilimitados desejos humanos. Oscilamos em organizar a produção de forma caótica permitindo que os mercados funcionem sem regulamentação e em tentar regulamentar e organizar a produção e a distribuição dos bens e serviços através do Estado. De uma forma ou de outra sempre estamos diante das conseqüências destas escolhas sejam elas o desemprego, a pobreza, a desigualdade, a exaustão dos recursos produtivos sejam a restrição à liberdade de escolher, a ausência de incentivos. Ora damos preferência às escolhas coletivas e grupais ora garantimos os direitos individuais.
Socialmente e coletivamente agimos e interagimos de forma a tornar o sonho de uma vida sem trabalho cada vez mais possível. Desenvolvemos robôs, processos automatizados, sistemas de controle que cada vez mais aumentam a produção e nossa capacidade de sobreviver sem envolver mais trabalho ou trabalhadores. Nas palavras de uma conhecida filósofa , somos uma sociedade de trabalhadores cada vez mais sem trabalho.
O lugar que ocupamos nesta sociedade depende não apenas de atributos meramente naturais (como os que dividem as abelhas rainhas das operárias), mas da posse de meios de produção ou de conhecimento. São estes os recursos que definem nossa capacidade de contribuição para a sobrevivência individual e grupal. Visto deste ângulo passamos a perceber que mais do que somos afetados pelas escolhas de governo, de chefias, de vizinhos e familiares, somos nós quem contribuímos e afetamos a vida de familiares, funcionários, cidades, empresas e nação.
Como indivíduos, nós escolhemos cotidianamente o que consumir e o quanto consumir. Escolhemos também quanto, onde e como trabalhar mesmo que muitas vezes não haja muita oportunidade para escolher (sempre podemos optar entre trabalhar e não trabalhar desde que aceitemos os custos envolvidos nestas escolhas). Nossas escolhas de trabalho definem a produção coletiva (utilizando o economês: definimos o Produto Interno Bruto) e o nível de atividade define nossa capacidade de compra. Contudo, as negociações que envolvem a definição da remuneração dos envolvidos no processo produtivo resultam em diferentes poderes de aquisição. Estes, uma vez definidos nos tornam capazes de adquirir fatias maiores ou menores do PIB. Mas, a despeito de termos capacidades diferenciadas que afetam nosso poder em escolher qual pedaço do PIB pretendemos colocar em nossos pratos, a escolha de quanto pretendemos consumir independe parcialmente da capacidade de pagar. Isto por que através do sistema bancário podemos ofertar crédito repassando aos que escolhem obter fatias maiores de consumo do que sua remuneração lhe permite comprar os recursos poupados por aqueles que escolheram consumir menos que seu poder de aquisição possibilitava. O repasse feito pelas instituições bancárias e o custo cobrado dos que tomam emprestados e os ganhos pagos aos que emprestaram dependem basicamente de escolhas individuais.
Nossas escolhas estão cada vez mais sendo definidas em função da escassez de tempo. Paramos pouco para refletir sobre nossas reais necessidades, sobre a alocação de nosso tempo e sobre a decisão de consumo. Somos fortemente impulsionados por nossas necessidades (muitas delas socialmente construídas como o desejo por marcas e a manutenção de um certo status) o que determina a necessidade de dedicarmos muitas horas para o trabalho. Roubamos de nós mesmos tempo precioso que antes dedicávamos à família, aos amigos e ao laser. E é essa roda da fortuna que nos leva a agir por impulso sem refletir sobre nossas reais necessidades. Quantas vezes paramos para planejar nosso futuro? Quanto tempo dedicamos a pensar estratégias que viabilizem projetos de vida? Quando não paramos para refletir sobre a vida nos comportamos como as inúmeras espécies vivas que os biólogos estudam. É a reflexão, a palavra e a ação escolhida que nos diferencia das demais espécies. Precisamos parar para observar e perceber o impacto de nossas escolhas sobre o nível de preços, o nível de atividade, a taxa de juros, o volume de lixo e o desmatamento que causamos.
Isso mesmo! Nosso eco-social-sistema resulta de escolhas, de trocas, de parcerias e de regras que podemos definir individualmente ou coletivamente. Em nada nos parecemos com a bactéria africana. Dependemos mutuamente. Necessitamos dividir o trabalho com sabedoria e eficiência. Muitas vezes o saber fazer não deve ser determinístico e sim o fazer melhor. Saber fazer não é fazer bem. Vejam como exemplo a produção de trigo no Brasil. Somos menos eficientes que nossa parceira comercial, a Argentina. Gastamos muito trabalho e terra para produzir quantidades de trigo significativamente inferiores quando comparamos com a rentabilidade de uma fazenda portenha. Como resultado é muito vantajoso utilizar nossas terras no cultivo de soja e com a comercialização desta obter recursos para a compra de trigo dos nossos vizinhos. Mas, saber fazer e poder fazer trigo nos confere poder de negociação uma vez que com preços elevados, se cobrados pela Argentina, podemos preferir produzir nacionalmente o trigo necessário. Em nossas empresas, somos diferentes?
Pensando nestas questões e na necessidade de começarmos a pensar em como promover o decrescimento econômico, coloquei ao lado o link da GoBiking, uma empresa de turismo ciclistico!
Aproveitando a proximidade com a biologia, sabemos que há pouco tempo foi descoberta na África do Sul uma bactéria que vive isolada em seu ecossistema: a D.audaxviator. É a única espécie viva de que temos notícia que é capaz de viver em completo isolamento. Uma vida auto-suficiente . Essa informação foi extraida do livro "A curiosa marcha dos grilos canibais" de Fernando Reinach.
A humanidade, como diversas outras espécies animais, necessita de outros seres vivos para garantir sua sobrevivência. É do nosso envolvimento e exploração de nosso ecossistema que organizamos nossa sobrevida. Exploramos, cultivamos, processamos, criamos, produzimos, distribuímos, reaproveitamos e consumimos garantindo dessa forma nossa sobrevivência.
Nosso polegar opositor conjugado a um cérebro desenvolvido nos permitiu criar formas de produzir, dividir o trabalho e organizar a produção não apenas para garantir nossa sobrevivência, mas também para garantir nosso bem estar entendido aqui como qualidade de vida seja o que este termo significar para você.
No entanto, somos forçados a reconhecer que os recursos são escassos se quisermos atender aos ilimitados desejos humanos. Oscilamos em organizar a produção de forma caótica permitindo que os mercados funcionem sem regulamentação e em tentar regulamentar e organizar a produção e a distribuição dos bens e serviços através do Estado. De uma forma ou de outra sempre estamos diante das conseqüências destas escolhas sejam elas o desemprego, a pobreza, a desigualdade, a exaustão dos recursos produtivos sejam a restrição à liberdade de escolher, a ausência de incentivos. Ora damos preferência às escolhas coletivas e grupais ora garantimos os direitos individuais.
Socialmente e coletivamente agimos e interagimos de forma a tornar o sonho de uma vida sem trabalho cada vez mais possível. Desenvolvemos robôs, processos automatizados, sistemas de controle que cada vez mais aumentam a produção e nossa capacidade de sobreviver sem envolver mais trabalho ou trabalhadores. Nas palavras de uma conhecida filósofa , somos uma sociedade de trabalhadores cada vez mais sem trabalho.
O lugar que ocupamos nesta sociedade depende não apenas de atributos meramente naturais (como os que dividem as abelhas rainhas das operárias), mas da posse de meios de produção ou de conhecimento. São estes os recursos que definem nossa capacidade de contribuição para a sobrevivência individual e grupal. Visto deste ângulo passamos a perceber que mais do que somos afetados pelas escolhas de governo, de chefias, de vizinhos e familiares, somos nós quem contribuímos e afetamos a vida de familiares, funcionários, cidades, empresas e nação.
Como indivíduos, nós escolhemos cotidianamente o que consumir e o quanto consumir. Escolhemos também quanto, onde e como trabalhar mesmo que muitas vezes não haja muita oportunidade para escolher (sempre podemos optar entre trabalhar e não trabalhar desde que aceitemos os custos envolvidos nestas escolhas). Nossas escolhas de trabalho definem a produção coletiva (utilizando o economês: definimos o Produto Interno Bruto) e o nível de atividade define nossa capacidade de compra. Contudo, as negociações que envolvem a definição da remuneração dos envolvidos no processo produtivo resultam em diferentes poderes de aquisição. Estes, uma vez definidos nos tornam capazes de adquirir fatias maiores ou menores do PIB. Mas, a despeito de termos capacidades diferenciadas que afetam nosso poder em escolher qual pedaço do PIB pretendemos colocar em nossos pratos, a escolha de quanto pretendemos consumir independe parcialmente da capacidade de pagar. Isto por que através do sistema bancário podemos ofertar crédito repassando aos que escolhem obter fatias maiores de consumo do que sua remuneração lhe permite comprar os recursos poupados por aqueles que escolheram consumir menos que seu poder de aquisição possibilitava. O repasse feito pelas instituições bancárias e o custo cobrado dos que tomam emprestados e os ganhos pagos aos que emprestaram dependem basicamente de escolhas individuais.
Nossas escolhas estão cada vez mais sendo definidas em função da escassez de tempo. Paramos pouco para refletir sobre nossas reais necessidades, sobre a alocação de nosso tempo e sobre a decisão de consumo. Somos fortemente impulsionados por nossas necessidades (muitas delas socialmente construídas como o desejo por marcas e a manutenção de um certo status) o que determina a necessidade de dedicarmos muitas horas para o trabalho. Roubamos de nós mesmos tempo precioso que antes dedicávamos à família, aos amigos e ao laser. E é essa roda da fortuna que nos leva a agir por impulso sem refletir sobre nossas reais necessidades. Quantas vezes paramos para planejar nosso futuro? Quanto tempo dedicamos a pensar estratégias que viabilizem projetos de vida? Quando não paramos para refletir sobre a vida nos comportamos como as inúmeras espécies vivas que os biólogos estudam. É a reflexão, a palavra e a ação escolhida que nos diferencia das demais espécies. Precisamos parar para observar e perceber o impacto de nossas escolhas sobre o nível de preços, o nível de atividade, a taxa de juros, o volume de lixo e o desmatamento que causamos.
Isso mesmo! Nosso eco-social-sistema resulta de escolhas, de trocas, de parcerias e de regras que podemos definir individualmente ou coletivamente. Em nada nos parecemos com a bactéria africana. Dependemos mutuamente. Necessitamos dividir o trabalho com sabedoria e eficiência. Muitas vezes o saber fazer não deve ser determinístico e sim o fazer melhor. Saber fazer não é fazer bem. Vejam como exemplo a produção de trigo no Brasil. Somos menos eficientes que nossa parceira comercial, a Argentina. Gastamos muito trabalho e terra para produzir quantidades de trigo significativamente inferiores quando comparamos com a rentabilidade de uma fazenda portenha. Como resultado é muito vantajoso utilizar nossas terras no cultivo de soja e com a comercialização desta obter recursos para a compra de trigo dos nossos vizinhos. Mas, saber fazer e poder fazer trigo nos confere poder de negociação uma vez que com preços elevados, se cobrados pela Argentina, podemos preferir produzir nacionalmente o trigo necessário. Em nossas empresas, somos diferentes?
Pensando nestas questões e na necessidade de começarmos a pensar em como promover o decrescimento econômico, coloquei ao lado o link da GoBiking, uma empresa de turismo ciclistico!
domingo, 26 de junho de 2011
Paulo Renato
Sou professora universitária desde 1988. Desde que comecei, perguntava em sala de aula aos alunos para identificarem um nome de um educador que não fosse o Paulo Freire. Nenhuma resposta. Depois, perguntava nomes de economistas que considerassem importante. Vários nomes eram lembrados. Ao final, concluia: um país não se faz com grandes economistas. São necessários grandes nomes de educadores!
Paulo Renato reunia essas duas qualificações. Por mais polêmica que tenha sido sua passagem no Ministério da Educação, existe o antes e o depois de Paulo Renato.
Em grossas linhas, ele minimizou os entraves burocráticos e permitiu uma rápida expansão do número de vagas no Ensino Superior, apontou falhas e desperdicios de recursos nas Universidades Federais, criou e valorizou o sistema de avaliação, criou os cursos sequenciais e tecnológicos, criou a figura dos centros universitários, valorizou a titulação de Mestres e Doutores e chamou a atenção da sociedade para a formação de nossos cidadãos. Se não fez mais pelo ensino fundamental e médio foi por que cabe às esferas municipais e estaduais a gestão destes níveis.
Como economista, Paulo Renato estava ciente da importância da formação de quadros profissionais competentes e da necessidade de ofertar mão de obra qualificada para construir um país capaz de crescer sustentadamente e com distribuição de renda. As políticas afirmativas não se comparam à transformação estrutural que o acesso à educação é capaz de processar.
Mas, uma justa homenagem a este homem público seria completar as reformas por ele iniciadas.
Houve uma grande mudança tanto nos critérios de avaliação quanto na forma de ofertar novas vagas no ensino superior durante o governo Lula.
Essa mudança reflete um posicionamento ideológico e também reflete mudanças conjunturais. A necessidade de realizar grandes superávits primários não deixou espaço para o crescimento de despesas públicas com a educação. Desta forma, o papel de ofertar novas vagas coube ao setor privado. Como o acesso à educação modifica não apenas o nível de renda futura como também a empregabilidade, as despesas com a educação devem ser vistas como investimentos pessoais. Considerando que os ganhos são apropriados privadamente, nada mais justo que os gastos também o sejam. Desta forma, justificava-se o crescimento das vagas pagas no ensino superior e criava-se o FIES como único instrumento de acesso ao Ensino Superior Privado para aqueles que não logravam exito em passar nos vestibulares em Universidades Públicas.
Com a adoção de um regime de cambio flexível (que permitiu controlar a taxa de juros doméstica) e uma mudança na composição da Dívida Pública (Aumentando a composição de títulos pré fixados em detrimento dos pós fixados) tornou-se possível diminuir a pressão por superávits primários crescentes. No Governo Lula, a ampliação das despesas com o ensino Superior Público resultou em aumento no número de Instituições e Vagas. Foi criado o PROUNI que garantiu o acesso às Universidades Privadas para alunos da rede pública e o FIES foi aprimorado (fiador solidário , redução de juros, etc.). E, contrapondo ao que foi dito acima, entendendo que os ganhos resultantes da educação não são privadamente apropriados e sim coletivamente, nada mais justo que utilizar recursos públicos e financiar o acesso à educação.
De acordo com a Sinopse de 2009, hoje temos 2314 instituições (entre Universidades, Centro Universitários, Faculdades Isoladas e outros)com
1.732.613 ingressos e 5.115.896 matrículas com 826.928 concluintes. Em 1994,os números eram bastante acanhados: 463.240 ingressos e 1.661.034 matrículas com 245.887 concluintes. Esses números, reflexos da enorme mudança no cenário educacional brasileiro, só foram possíveis em função do aumento nas vagas.
O crescimento de 209% no número de vagas no ensino superior no periodo 1994-2002 foi o que permitiu um crescimento de 90% no número de concluintes e hoje, podemos mensurar e comparar o desempenho das Instituições de Ensino em seus diferentes níveis (fundamental, médio e superior) ao logo dos Governos passados.
Polêmico sim. Mas, sem dúvida alguma, Paulo Renato transformou esta nação e promoveu o debate e valorizou a educação.
Paulo Renato reunia essas duas qualificações. Por mais polêmica que tenha sido sua passagem no Ministério da Educação, existe o antes e o depois de Paulo Renato.
Em grossas linhas, ele minimizou os entraves burocráticos e permitiu uma rápida expansão do número de vagas no Ensino Superior, apontou falhas e desperdicios de recursos nas Universidades Federais, criou e valorizou o sistema de avaliação, criou os cursos sequenciais e tecnológicos, criou a figura dos centros universitários, valorizou a titulação de Mestres e Doutores e chamou a atenção da sociedade para a formação de nossos cidadãos. Se não fez mais pelo ensino fundamental e médio foi por que cabe às esferas municipais e estaduais a gestão destes níveis.
Como economista, Paulo Renato estava ciente da importância da formação de quadros profissionais competentes e da necessidade de ofertar mão de obra qualificada para construir um país capaz de crescer sustentadamente e com distribuição de renda. As políticas afirmativas não se comparam à transformação estrutural que o acesso à educação é capaz de processar.
Mas, uma justa homenagem a este homem público seria completar as reformas por ele iniciadas.
Houve uma grande mudança tanto nos critérios de avaliação quanto na forma de ofertar novas vagas no ensino superior durante o governo Lula.
Essa mudança reflete um posicionamento ideológico e também reflete mudanças conjunturais. A necessidade de realizar grandes superávits primários não deixou espaço para o crescimento de despesas públicas com a educação. Desta forma, o papel de ofertar novas vagas coube ao setor privado. Como o acesso à educação modifica não apenas o nível de renda futura como também a empregabilidade, as despesas com a educação devem ser vistas como investimentos pessoais. Considerando que os ganhos são apropriados privadamente, nada mais justo que os gastos também o sejam. Desta forma, justificava-se o crescimento das vagas pagas no ensino superior e criava-se o FIES como único instrumento de acesso ao Ensino Superior Privado para aqueles que não logravam exito em passar nos vestibulares em Universidades Públicas.
Com a adoção de um regime de cambio flexível (que permitiu controlar a taxa de juros doméstica) e uma mudança na composição da Dívida Pública (Aumentando a composição de títulos pré fixados em detrimento dos pós fixados) tornou-se possível diminuir a pressão por superávits primários crescentes. No Governo Lula, a ampliação das despesas com o ensino Superior Público resultou em aumento no número de Instituições e Vagas. Foi criado o PROUNI que garantiu o acesso às Universidades Privadas para alunos da rede pública e o FIES foi aprimorado (fiador solidário , redução de juros, etc.). E, contrapondo ao que foi dito acima, entendendo que os ganhos resultantes da educação não são privadamente apropriados e sim coletivamente, nada mais justo que utilizar recursos públicos e financiar o acesso à educação.
De acordo com a Sinopse de 2009, hoje temos 2314 instituições (entre Universidades, Centro Universitários, Faculdades Isoladas e outros)com
1.732.613 ingressos e 5.115.896 matrículas com 826.928 concluintes. Em 1994,os números eram bastante acanhados: 463.240 ingressos e 1.661.034 matrículas com 245.887 concluintes. Esses números, reflexos da enorme mudança no cenário educacional brasileiro, só foram possíveis em função do aumento nas vagas.
O crescimento de 209% no número de vagas no ensino superior no periodo 1994-2002 foi o que permitiu um crescimento de 90% no número de concluintes e hoje, podemos mensurar e comparar o desempenho das Instituições de Ensino em seus diferentes níveis (fundamental, médio e superior) ao logo dos Governos passados.
Polêmico sim. Mas, sem dúvida alguma, Paulo Renato transformou esta nação e promoveu o debate e valorizou a educação.
quarta-feira, 22 de junho de 2011
Só mesmo quebrando pratos......
Se eu fosse Grega, agora ia querer atirar alguns pratos por ai.... Piadas à parte, a imprensa local exalta resultados das bolsas como reflexo de um enstusiasmo acerca das negociações com a Grécia. Quer me parecer que os agentes privados estão correndo de ativos Gregos e buscando alternativas de aplicação... Talvez por isso o rEsultado das bolsas?
No entanto, a situação da Grécia inspira mais preocupação do que a impreNsa brasileira parece estar dando.
A situação é simples: o pacote de ajuda da Europa/FMI não previa uma mudança no comportamento dos credores Gregos. Me parece que também não houve uma correta e transparente explicitação da exposição de Bancos e Agentes Europeus. Assim,à medida que foi ficando claro que o pacote de ajuda subestimou as necessidades gregas, a preocupação dos Governos de nações Européias se reacendeu.
Para a Alemanha, seria necessário um alongamento da dívida. Portanto, os detentores de títulos da dívida Grega deveriam concordar em trocar títulos com vencimento no curto prazo por novos títulos com vencimento em prazos mais longos. Para aqueles que aplicaram seus recursos em títulos Gregos, o alongamento compulsório da dívida equivale a uma perda comparável ao que no Brasil chamamos de "confisco" na era Collor. Mas, o mesmo alongamento significaria prazo e fôlego para o Governo Grego e um voto de misericórdia a favor da população Grega.
O interessante é observar que o Banco Central Europeu se opôs veementemente à proposta e atuou no sentido de convencer a Alemanha de que esta não seria uma boa alternativa. Quais os motivos desta escolha? Seria pelo conhecimento inerente à supervisão das Instituições Financeiras dos detentores privados de títulos da dívida grega de um grau de exposição e risco indesejado? Seria a percepção de uma elevada probabilidade de contágio? Seria parte de uma estratégia de fortalecimento do Euro e de ativos denominados em Euro como forma de internacionalização monetária e competição com o dólar?
Alguém imagina quais seriam as motivações do BCE?
No entanto, a situação da Grécia inspira mais preocupação do que a impreNsa brasileira parece estar dando.
A situação é simples: o pacote de ajuda da Europa/FMI não previa uma mudança no comportamento dos credores Gregos. Me parece que também não houve uma correta e transparente explicitação da exposição de Bancos e Agentes Europeus. Assim,à medida que foi ficando claro que o pacote de ajuda subestimou as necessidades gregas, a preocupação dos Governos de nações Européias se reacendeu.
Para a Alemanha, seria necessário um alongamento da dívida. Portanto, os detentores de títulos da dívida Grega deveriam concordar em trocar títulos com vencimento no curto prazo por novos títulos com vencimento em prazos mais longos. Para aqueles que aplicaram seus recursos em títulos Gregos, o alongamento compulsório da dívida equivale a uma perda comparável ao que no Brasil chamamos de "confisco" na era Collor. Mas, o mesmo alongamento significaria prazo e fôlego para o Governo Grego e um voto de misericórdia a favor da população Grega.
O interessante é observar que o Banco Central Europeu se opôs veementemente à proposta e atuou no sentido de convencer a Alemanha de que esta não seria uma boa alternativa. Quais os motivos desta escolha? Seria pelo conhecimento inerente à supervisão das Instituições Financeiras dos detentores privados de títulos da dívida grega de um grau de exposição e risco indesejado? Seria a percepção de uma elevada probabilidade de contágio? Seria parte de uma estratégia de fortalecimento do Euro e de ativos denominados em Euro como forma de internacionalização monetária e competição com o dólar?
Alguém imagina quais seriam as motivações do BCE?
terça-feira, 21 de junho de 2011
Tragédia no lugar de comédia?
A contínua valorização do real significou às empresas exportadoras não apenas um encarecimento do preço de seu produto em dólar, com conseqüente diminuição nas vendas, mas também uma diminuição na receita quando convertida em reais. Desta forma, manter uma taxa requerida de retorno tornou-se uma difícil arte. Para a grande maioria a manutenção da taxa exigida de retorno pelos acionistas significa compensar perdas operacionais com ganhos financeiros. Assim sendo, muitas das empresas brasileiras estão expostas a operações cambiais de considerável risco. Obviamente a continua valorização do real confere uma aparente estabilidade para estas operações tornando a aposta óbvia.
Mas a crise Grega e as possibilidades de contágio apontam para a ausência de obviedade deste jogo.
Sabemos que após a crise de 2008, Bancos e Empresas financeiras e não financeiras buscaram diminuir seu grau de exposição e ampliar a liquidez de seus ativos. A crescente demanda por moeda de reserva (resultante do esforço de ampliação da liquidez) garantiu ao Fed a possibilidade de financiar o Tesouro Americano em seu esforço de estimular a demanda agregada. Apesar disso, é razoável supor que há agentes financeiros pouco aversos a riscos e que permaneceram especulando em busca de ativos de elevado risco e retorno como os títulos da dívida Grega. O que não sabemos é em que medida a posse de títulos da dívida grega e a possibilidade de contágio podem levar a um “Double dip”!
No caso, e estamos aqui apenas especulando, poderíamos ver ocorrer no Brasil um pico de desvalorização do real e ver a história se repetir como tragédia e não como comédia. Diante desta probabilidade, mesmo que remota, seria altamente recomendado às empresas brasileiras mencionadas no início deste texto que diminuíssem seu grau de exposição ou buscassem estratégias defensivas.
Mas a crise Grega e as possibilidades de contágio apontam para a ausência de obviedade deste jogo.
Sabemos que após a crise de 2008, Bancos e Empresas financeiras e não financeiras buscaram diminuir seu grau de exposição e ampliar a liquidez de seus ativos. A crescente demanda por moeda de reserva (resultante do esforço de ampliação da liquidez) garantiu ao Fed a possibilidade de financiar o Tesouro Americano em seu esforço de estimular a demanda agregada. Apesar disso, é razoável supor que há agentes financeiros pouco aversos a riscos e que permaneceram especulando em busca de ativos de elevado risco e retorno como os títulos da dívida Grega. O que não sabemos é em que medida a posse de títulos da dívida grega e a possibilidade de contágio podem levar a um “Double dip”!
No caso, e estamos aqui apenas especulando, poderíamos ver ocorrer no Brasil um pico de desvalorização do real e ver a história se repetir como tragédia e não como comédia. Diante desta probabilidade, mesmo que remota, seria altamente recomendado às empresas brasileiras mencionadas no início deste texto que diminuíssem seu grau de exposição ou buscassem estratégias defensivas.
segunda-feira, 20 de junho de 2011
Quinta feira passada encerrei a palestra para jornalistas falando um pouco dos cenários propostos pelo Banco Mundial (relatório Global Development Horizons 2011 - Multipolarity: The New Global Economy). No cenário, o banco trabalha com três hipóteses:
1. A manutenção do dólar como moeda de reserva internacional
2. A multipolarização monetária entre dólar, euro, iene e iuane
3. A criação de uma nova moeda de reserva
Mas, assistindo a uma palestra de Benjamin Cohen na semana passada, percebo a baixa probabilidade das duas últimas hipóteses. Por isso, escrevo para que possamos atualizar e discutir esses cenários.
Os elementos que me fazem pensar em atribuir uma probabilidade maior à primeira hipótese para o curto prazo podem ser assim resumidos:
Com relação ao Dólar
• Em julho o FED encerra a política de acomodação monetária e o dólar tende a parar de se desvalorizar
• Os títulos americanos oferecem ainda boa alternativa de aplicação em função de sua liquidez
• O tamanho da economia americana em comparação às demais
• O desinteresse das demais economias em ver se desvalorizar suas reservas internacionais
Com relação ao Euro
• A fragmentação de interesses Europeus
• A ausência de um instrumento financeiro de alta liquidez que se compare aos títulos americanos
• O tamanho da economia européia
• UMA economia européia? : ainda não há clareza acerca da manutenção do atual desenho tendo em vista que cresce o estímulo a países como a Grécia de sair da zona do Euro.
Com relação às demais moedas
• Ausência de demanda significativa no mercado mundial por moedas como Iuane, Iene ou Real.
• A ausência de um instrumento financeiro de alta liquidez que se compare aos títulos americanos.
Com relação à criação de uma nova moeda (proposta no G20)
• Incertezas sobre a composição dos ativos que lastrearão a nova moeda
• Incertezas acerca da Instituição que se responsabilizará pela emissão da nova moeda.
• Necessidade de criação não apenas de uma nova moeda, mas também de um novo ativo financeiro de alta liquidez
• Incerteza acerca das relações de poder e comando da nova Instituição
Neste contexto, as incertezas com relação às alternativas fazem com que a manutenção dos negócios em dólar seja a opção mais provável. Até por que as variações (ou no jargão econômico a variância) tendem a ser menores e eliminam riscos desnecessários.
Contudo, diante do exposto, também é razoável acreditar que é pouco provável uma mudança brusca na condução da política monetária norte americana. Exceto por uma tentativa de controlar o crescimento nos preços e estimular a demanda monetária internacional, a desvalorização do dólar atende aos interesses de recuperação da Economia Americana.
Desta forma, considerando que ao Brasil interessa essa recuperação ( apesar do déficit comercial com os EUA, a qualidade da pauta de exportações brasileiras para este país favorece os setores de maior valor agregado), resta-nos a resignação de conviver com um real apreciado ou com sua alternativa (uma desvalorização cambial, um regime de cambio fixo, inflação).
No entanto, parece-me que o governo decidiu abrir a caixa de pandora e utilizar instrumentos microeconômicos em detrimento de alterações macroeconômicas que podem ser percebidas como um aumento no risco país. Uma das medidas já anunciadas prevê a criação de um Grupo de Inteligência Antidumping como forma de subsidiar a indústria nacional na instrução de processos internacionais respeitando as regras da OMC.
Ressalto ainda a ausência de um debate ou de um Consenso Nacional sobre nossa estratégia e política de crescimento a exemplo do Consenso de Washington e do Consenso de Beijing. Soube que o prof. Luiz Carlos Bresser Pereira (meu ex-orientador) vem trabalhando neste sentido e discutindo oportunamente formas de neutralizar a apreciação cambial.
1. A manutenção do dólar como moeda de reserva internacional
2. A multipolarização monetária entre dólar, euro, iene e iuane
3. A criação de uma nova moeda de reserva
Mas, assistindo a uma palestra de Benjamin Cohen na semana passada, percebo a baixa probabilidade das duas últimas hipóteses. Por isso, escrevo para que possamos atualizar e discutir esses cenários.
Os elementos que me fazem pensar em atribuir uma probabilidade maior à primeira hipótese para o curto prazo podem ser assim resumidos:
Com relação ao Dólar
• Em julho o FED encerra a política de acomodação monetária e o dólar tende a parar de se desvalorizar
• Os títulos americanos oferecem ainda boa alternativa de aplicação em função de sua liquidez
• O tamanho da economia americana em comparação às demais
• O desinteresse das demais economias em ver se desvalorizar suas reservas internacionais
Com relação ao Euro
• A fragmentação de interesses Europeus
• A ausência de um instrumento financeiro de alta liquidez que se compare aos títulos americanos
• O tamanho da economia européia
• UMA economia européia? : ainda não há clareza acerca da manutenção do atual desenho tendo em vista que cresce o estímulo a países como a Grécia de sair da zona do Euro.
Com relação às demais moedas
• Ausência de demanda significativa no mercado mundial por moedas como Iuane, Iene ou Real.
• A ausência de um instrumento financeiro de alta liquidez que se compare aos títulos americanos.
Com relação à criação de uma nova moeda (proposta no G20)
• Incertezas sobre a composição dos ativos que lastrearão a nova moeda
• Incertezas acerca da Instituição que se responsabilizará pela emissão da nova moeda.
• Necessidade de criação não apenas de uma nova moeda, mas também de um novo ativo financeiro de alta liquidez
• Incerteza acerca das relações de poder e comando da nova Instituição
Neste contexto, as incertezas com relação às alternativas fazem com que a manutenção dos negócios em dólar seja a opção mais provável. Até por que as variações (ou no jargão econômico a variância) tendem a ser menores e eliminam riscos desnecessários.
Contudo, diante do exposto, também é razoável acreditar que é pouco provável uma mudança brusca na condução da política monetária norte americana. Exceto por uma tentativa de controlar o crescimento nos preços e estimular a demanda monetária internacional, a desvalorização do dólar atende aos interesses de recuperação da Economia Americana.
Desta forma, considerando que ao Brasil interessa essa recuperação ( apesar do déficit comercial com os EUA, a qualidade da pauta de exportações brasileiras para este país favorece os setores de maior valor agregado), resta-nos a resignação de conviver com um real apreciado ou com sua alternativa (uma desvalorização cambial, um regime de cambio fixo, inflação).
No entanto, parece-me que o governo decidiu abrir a caixa de pandora e utilizar instrumentos microeconômicos em detrimento de alterações macroeconômicas que podem ser percebidas como um aumento no risco país. Uma das medidas já anunciadas prevê a criação de um Grupo de Inteligência Antidumping como forma de subsidiar a indústria nacional na instrução de processos internacionais respeitando as regras da OMC.
Ressalto ainda a ausência de um debate ou de um Consenso Nacional sobre nossa estratégia e política de crescimento a exemplo do Consenso de Washington e do Consenso de Beijing. Soube que o prof. Luiz Carlos Bresser Pereira (meu ex-orientador) vem trabalhando neste sentido e discutindo oportunamente formas de neutralizar a apreciação cambial.
Câmbio flutuante sim, idiotice não!
Em palestra ministrada semana passada, discuti com um grupo de jornalistas o tema " Economia Brasileira e sua inserção internacional".
Há farto referencial teórico sobre Economia Internacional e vantagens e desvantagens nas trocas internacionais.
Se por um lado, podemos discutir as vantagens indiscutíveis de trocar produtos com vantagens comparativas, também podemos defender a necessidade de manutenção da produção de bens apenas com vantagens absolutas como estratégia de negociação (em casos de uma negociação desfavorável, poder abastacer ao menos parcialmente o mercado nacional é em si uma possibilidade vantajosa). Por outro lado, as evidências de uma troca desigual e favorável aos produtos manufaturados levou a estratégias diferentes de industrialização. Enquanto isso, para produtos agrícolas com fraca competição internacional, o resultado em termos de valor agregado equivalia ao resultado de manufaturados. O que quero dizer é que para quaisquer referenciais teóricos, há excessões à regra. Metodologicamente isto é claro: teorias são generalizações de fatos fartamente observados.
De um ponto de vista mais pragmático, os países competem! E competem utilizando estratégias diversas de políticas macroeconômicas e microeconômicas. No arsenal macroeconômico estão a definição da Política Fiscal, da Política Monetária, da Política Cambial, da Política de Rendas e o controle dos preços (para controlar a taxa de cambio real). Mas, há também uma vasta opção de instrumentos de Política Microeconômica que podem ser utilizados para fortalecer os negócios internacionais e favorecer o crescimento econômico do país. Entre estes estão: a definição de Tarifas, de Restrições Aduaneiras,escolhas de Nacionalização ou Privatização, regras para IDE e Regulação.
Nesse sentido, o anúncio do governo de criação de um Grupo de Inteligência que deverá reunir informações para subsidiar solicitações de Processo Antidumping, respeitando as regras da Organização Mundial de Comércio deve ser calorosamente recebido! É uma forte demonstração de clareza por parte do Governo de que mesmo respeitando o funcionamento de mercado para a taxa de cambio, devemos estar atentos e não expor desnecessariamente nossos produtores domésticos a um mercado que nem sempre funciona corretamente!
Há farto referencial teórico sobre Economia Internacional e vantagens e desvantagens nas trocas internacionais.
Se por um lado, podemos discutir as vantagens indiscutíveis de trocar produtos com vantagens comparativas, também podemos defender a necessidade de manutenção da produção de bens apenas com vantagens absolutas como estratégia de negociação (em casos de uma negociação desfavorável, poder abastacer ao menos parcialmente o mercado nacional é em si uma possibilidade vantajosa). Por outro lado, as evidências de uma troca desigual e favorável aos produtos manufaturados levou a estratégias diferentes de industrialização. Enquanto isso, para produtos agrícolas com fraca competição internacional, o resultado em termos de valor agregado equivalia ao resultado de manufaturados. O que quero dizer é que para quaisquer referenciais teóricos, há excessões à regra. Metodologicamente isto é claro: teorias são generalizações de fatos fartamente observados.
De um ponto de vista mais pragmático, os países competem! E competem utilizando estratégias diversas de políticas macroeconômicas e microeconômicas. No arsenal macroeconômico estão a definição da Política Fiscal, da Política Monetária, da Política Cambial, da Política de Rendas e o controle dos preços (para controlar a taxa de cambio real). Mas, há também uma vasta opção de instrumentos de Política Microeconômica que podem ser utilizados para fortalecer os negócios internacionais e favorecer o crescimento econômico do país. Entre estes estão: a definição de Tarifas, de Restrições Aduaneiras,escolhas de Nacionalização ou Privatização, regras para IDE e Regulação.
Nesse sentido, o anúncio do governo de criação de um Grupo de Inteligência que deverá reunir informações para subsidiar solicitações de Processo Antidumping, respeitando as regras da Organização Mundial de Comércio deve ser calorosamente recebido! É uma forte demonstração de clareza por parte do Governo de que mesmo respeitando o funcionamento de mercado para a taxa de cambio, devemos estar atentos e não expor desnecessariamente nossos produtores domésticos a um mercado que nem sempre funciona corretamente!
quarta-feira, 15 de junho de 2011
O número 11
Há alguns anos recebi um daqueles emails com uma apresentação em anexo fazendo graça com o número 11. Lembro do 11 de setembro, do número do Maluf nas eleições.....
Todos episódios passados. No entanto, há um 11 no porvir que deveria ser objeto de preocupação! No próximo mês, no dia 11 de julho (uma data que é para mim fatídica por outros motivos....é véspera de ficar mais velha!) haverá provavelmente uma reversão na política de acomodação monetária norte americana.
Caso não haja uma alteração, como o anúncio da continuidade das medidas adotadas até o momento, a tendência é estabilizar um pouco a taxa de cambio. A valorização do real ficará por conta das medidas domésticas de contenção da inflação.
Todos episódios passados. No entanto, há um 11 no porvir que deveria ser objeto de preocupação! No próximo mês, no dia 11 de julho (uma data que é para mim fatídica por outros motivos....é véspera de ficar mais velha!) haverá provavelmente uma reversão na política de acomodação monetária norte americana.
Caso não haja uma alteração, como o anúncio da continuidade das medidas adotadas até o momento, a tendência é estabilizar um pouco a taxa de cambio. A valorização do real ficará por conta das medidas domésticas de contenção da inflação.
quarta-feira, 8 de junho de 2011
Dívida Pública Interna
Os dados da dívida pública doméstica mostram um crescimento do saldo do mês de abril em relação ao mesmo mês do ano anterior de 11%. Contudo, considerando os valores nominais deflacionados pelo IGP-DI mostram não ter havido variação significativa no tamanho da dívida. Considerando o crescimento do PIB, a evolução da razão dívida/PIB sugere equilíbrio e sustentabilidade no financiamento da mesma.
Os dados mostram uma mudança na composição da dívida. Houve uma diminuição da dívida em mãos das Instituições Financeiras e Fundos de Investimento (-13 e -4% respectivamente) enquanto que o saldo para Não Residentes, Seguradoras e Previdência cresceu no mesmo período (27, 23 e 15%).
A participação da posse de títulos da dívida para não residentes em relação ao total era de apenas 5,1% do total em dezembro de 2007. Hoje, os não residentes participam com 15,9% do total da dívida a despeito da elevação no IOF. Mesmo quando excluímos a participação do Governo do total, encontramos um crescimento expressivo na participação de Não Residentes no total de 12,6%.
Quanto à participação do Governo no total, vale explicar que desde dezembro de 2010, o Governo detém em torno de 10% do total da dívida mobiliária. Fundos como o FAT, FGTS, Fundos Extramercados, Fundos Soberanos e Fundos Garantidores aplicam seus recursos em títulos da dívida pública federal.
Para o mesmo período, a dívida pública externa descresceu 11%.
Os dados mostram uma mudança na composição da dívida. Houve uma diminuição da dívida em mãos das Instituições Financeiras e Fundos de Investimento (-13 e -4% respectivamente) enquanto que o saldo para Não Residentes, Seguradoras e Previdência cresceu no mesmo período (27, 23 e 15%).
A participação da posse de títulos da dívida para não residentes em relação ao total era de apenas 5,1% do total em dezembro de 2007. Hoje, os não residentes participam com 15,9% do total da dívida a despeito da elevação no IOF. Mesmo quando excluímos a participação do Governo do total, encontramos um crescimento expressivo na participação de Não Residentes no total de 12,6%.
Quanto à participação do Governo no total, vale explicar que desde dezembro de 2010, o Governo detém em torno de 10% do total da dívida mobiliária. Fundos como o FAT, FGTS, Fundos Extramercados, Fundos Soberanos e Fundos Garantidores aplicam seus recursos em títulos da dívida pública federal.
Para o mesmo período, a dívida pública externa descresceu 11%.
terça-feira, 7 de junho de 2011
Multipolarização Monetária
Devo ter falado sobre isso antes.... mas, ultimamente tem sido meu assunto preferido!
A constante queda do dólar parece ter prazo para acabar....Junho termina a política de acomodação monetária do FED...
Enquanto isso, parece que a internacionalização do Euro enfrenta restrições (veja o excelente artigo escrito pelo prof.Luiz Carlos Bresser Pereira sobre o assunto em seu site:http://www.bresserpereira.org.br/view.asp?cod=4501).
O risco para empresas e capitais internacionalizados que negociam nestas moedas está cada vez maior. Explico. Uma empresa que opera na Ucrânia, por exemplo, deve trocar as Hyvnias (moeda local) por dólares ou euros antes de convertê-las em moeda local (o Real seria o exemplo se a empresa fosse brasileira). Neste caso, uma apreciação cambial nas Hyvnias aumentaria o lucro em dólares. Contudo, a conversão para reais as diminuiria. O tempo, aquela variável que ninguém controla, torna-se o elemento que determinará se as apreciações se anulam, se determinam ganhos em janelas de oportunidade ou perdas. Manipular o câmbio criaria janelas de oportunidade para a realização das operações... Enquanto isso, apesar de desvalorizado, o Yuane ganha mercado e a moeda Chinesa se internacionaliza...
Alguma estratégia em vista para a moeda brasileira????
A constante queda do dólar parece ter prazo para acabar....Junho termina a política de acomodação monetária do FED...
Enquanto isso, parece que a internacionalização do Euro enfrenta restrições (veja o excelente artigo escrito pelo prof.Luiz Carlos Bresser Pereira sobre o assunto em seu site:http://www.bresserpereira.org.br/view.asp?cod=4501).
O risco para empresas e capitais internacionalizados que negociam nestas moedas está cada vez maior. Explico. Uma empresa que opera na Ucrânia, por exemplo, deve trocar as Hyvnias (moeda local) por dólares ou euros antes de convertê-las em moeda local (o Real seria o exemplo se a empresa fosse brasileira). Neste caso, uma apreciação cambial nas Hyvnias aumentaria o lucro em dólares. Contudo, a conversão para reais as diminuiria. O tempo, aquela variável que ninguém controla, torna-se o elemento que determinará se as apreciações se anulam, se determinam ganhos em janelas de oportunidade ou perdas. Manipular o câmbio criaria janelas de oportunidade para a realização das operações... Enquanto isso, apesar de desvalorizado, o Yuane ganha mercado e a moeda Chinesa se internacionaliza...
Alguma estratégia em vista para a moeda brasileira????
segunda-feira, 6 de junho de 2011
Preços Administrados
Ainda sobre a movimentação de capitais internacionais, chama a atenção o potencial de fusões em uma economia que se recupera, com perspectivas de crescimento, em um cenário internacional preocupante.
Entre os fatores que permitem a existência de negócios atraentes estão as previsões de crescimento e a existência de assimetrias de informação.
No passado, em alguns setores foi a existência de contratos que permitissem ou garantissem reajustes de preços pelo IGP-M ou por equivalência de preços no mercado mundial que garantiu a atratividade dos negócios.
Hoje, a existência de indexação faz crescerem os preços administrados bem acima da média da inflação.
A indexação cria inúmeras distorções. A primeira distorção é alocativa, pois desestimula investimentos em setores cujos preços são livremente negociados. Operando com um regime de metas, quando os preços sobem sinalizando uma inflação acima da meta, o Banco Central eleva a taxa de juros, desestimulando a atividade econômica e promovendo o ajuste na média ponderada de preços alvo (meta inflacionária) com redução mais do que significativa nos preços livres, reduzindo a lucratividade nestes setores. A diminuição na lucrativadade desestimula investimentos reduzindo a oferta futura nestes segmentos. A segunda distorção é temporal. Um aumento nos preços, causado por problemas momentâneos como alterações climáticas, tende a se perpetuar. Conhecemos esse fenômeno como inflação inercial e em econometria, dizemos que o processo inflacionário pode ser expresso como um processo com raiz unitária. A terceira distorção se refere aos consumidores e seu poder de compra. Os reajustes de preços indexados tornam os preços no Brasil superiores aos preços praticados internacionalmente e tornam a vida dos Brasileiros mais cara.
O resultado esperado de um diagnóstico como este seria denunciar os contratos que garantem a indexação para renegociá-los em bases mais adequadas. Mas, por que afinal permitimos a indexação?
Por trás dos processos de privatização das empresas estatais, estava a necessidade de realizar para o Estado Brasileiro um ajuste patrimonial. A venda de ativos do Estado permitiria a redução do endividamento e, com isto, uma redução no risco país, na taxa de juros, e da necessidade de aumento na arrecadação. Portanto, naquele momento, a aceitação de contratos que permitissem uma projeção de fluxo de caixa sem o risco da inflação, permitiria condições mais favoráveis de negociação.
No contexto atual, a indexação é uma insanidade que ameaça a estabilidade do controle de preços e as expectativas de crescimento econômico. Contudo, a denúncia dos contratos deve levar em conta as condições de negociação anteriores e a viabilidade desses negócios. Trata-se portanto, de uma escolha díficil em que, em um lado está a população arcando com os custos inflacionários e, de outro, a credibilidade e confiança que - sendo abaladas por uma denúncia de contrato - ampliam os riscos de negócios com o Brasil.
Entre os fatores que permitem a existência de negócios atraentes estão as previsões de crescimento e a existência de assimetrias de informação.
No passado, em alguns setores foi a existência de contratos que permitissem ou garantissem reajustes de preços pelo IGP-M ou por equivalência de preços no mercado mundial que garantiu a atratividade dos negócios.
Hoje, a existência de indexação faz crescerem os preços administrados bem acima da média da inflação.
A indexação cria inúmeras distorções. A primeira distorção é alocativa, pois desestimula investimentos em setores cujos preços são livremente negociados. Operando com um regime de metas, quando os preços sobem sinalizando uma inflação acima da meta, o Banco Central eleva a taxa de juros, desestimulando a atividade econômica e promovendo o ajuste na média ponderada de preços alvo (meta inflacionária) com redução mais do que significativa nos preços livres, reduzindo a lucratividade nestes setores. A diminuição na lucrativadade desestimula investimentos reduzindo a oferta futura nestes segmentos. A segunda distorção é temporal. Um aumento nos preços, causado por problemas momentâneos como alterações climáticas, tende a se perpetuar. Conhecemos esse fenômeno como inflação inercial e em econometria, dizemos que o processo inflacionário pode ser expresso como um processo com raiz unitária. A terceira distorção se refere aos consumidores e seu poder de compra. Os reajustes de preços indexados tornam os preços no Brasil superiores aos preços praticados internacionalmente e tornam a vida dos Brasileiros mais cara.
O resultado esperado de um diagnóstico como este seria denunciar os contratos que garantem a indexação para renegociá-los em bases mais adequadas. Mas, por que afinal permitimos a indexação?
Por trás dos processos de privatização das empresas estatais, estava a necessidade de realizar para o Estado Brasileiro um ajuste patrimonial. A venda de ativos do Estado permitiria a redução do endividamento e, com isto, uma redução no risco país, na taxa de juros, e da necessidade de aumento na arrecadação. Portanto, naquele momento, a aceitação de contratos que permitissem uma projeção de fluxo de caixa sem o risco da inflação, permitiria condições mais favoráveis de negociação.
No contexto atual, a indexação é uma insanidade que ameaça a estabilidade do controle de preços e as expectativas de crescimento econômico. Contudo, a denúncia dos contratos deve levar em conta as condições de negociação anteriores e a viabilidade desses negócios. Trata-se portanto, de uma escolha díficil em que, em um lado está a população arcando com os custos inflacionários e, de outro, a credibilidade e confiança que - sendo abaladas por uma denúncia de contrato - ampliam os riscos de negócios com o Brasil.
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