Quinta feira passada encerrei a palestra para jornalistas falando um pouco dos cenários propostos pelo Banco Mundial (relatório Global Development Horizons 2011 - Multipolarity: The New Global Economy). No cenário, o banco trabalha com três hipóteses:
1. A manutenção do dólar como moeda de reserva internacional
2. A multipolarização monetária entre dólar, euro, iene e iuane
3. A criação de uma nova moeda de reserva
Mas, assistindo a uma palestra de Benjamin Cohen na semana passada, percebo a baixa probabilidade das duas últimas hipóteses. Por isso, escrevo para que possamos atualizar e discutir esses cenários.
Os elementos que me fazem pensar em atribuir uma probabilidade maior à primeira hipótese para o curto prazo podem ser assim resumidos:
Com relação ao Dólar
• Em julho o FED encerra a política de acomodação monetária e o dólar tende a parar de se desvalorizar
• Os títulos americanos oferecem ainda boa alternativa de aplicação em função de sua liquidez
• O tamanho da economia americana em comparação às demais
• O desinteresse das demais economias em ver se desvalorizar suas reservas internacionais
Com relação ao Euro
• A fragmentação de interesses Europeus
• A ausência de um instrumento financeiro de alta liquidez que se compare aos títulos americanos
• O tamanho da economia européia
• UMA economia européia? : ainda não há clareza acerca da manutenção do atual desenho tendo em vista que cresce o estímulo a países como a Grécia de sair da zona do Euro.
Com relação às demais moedas
• Ausência de demanda significativa no mercado mundial por moedas como Iuane, Iene ou Real.
• A ausência de um instrumento financeiro de alta liquidez que se compare aos títulos americanos.
Com relação à criação de uma nova moeda (proposta no G20)
• Incertezas sobre a composição dos ativos que lastrearão a nova moeda
• Incertezas acerca da Instituição que se responsabilizará pela emissão da nova moeda.
• Necessidade de criação não apenas de uma nova moeda, mas também de um novo ativo financeiro de alta liquidez
• Incerteza acerca das relações de poder e comando da nova Instituição
Neste contexto, as incertezas com relação às alternativas fazem com que a manutenção dos negócios em dólar seja a opção mais provável. Até por que as variações (ou no jargão econômico a variância) tendem a ser menores e eliminam riscos desnecessários.
Contudo, diante do exposto, também é razoável acreditar que é pouco provável uma mudança brusca na condução da política monetária norte americana. Exceto por uma tentativa de controlar o crescimento nos preços e estimular a demanda monetária internacional, a desvalorização do dólar atende aos interesses de recuperação da Economia Americana.
Desta forma, considerando que ao Brasil interessa essa recuperação ( apesar do déficit comercial com os EUA, a qualidade da pauta de exportações brasileiras para este país favorece os setores de maior valor agregado), resta-nos a resignação de conviver com um real apreciado ou com sua alternativa (uma desvalorização cambial, um regime de cambio fixo, inflação).
No entanto, parece-me que o governo decidiu abrir a caixa de pandora e utilizar instrumentos microeconômicos em detrimento de alterações macroeconômicas que podem ser percebidas como um aumento no risco país. Uma das medidas já anunciadas prevê a criação de um Grupo de Inteligência Antidumping como forma de subsidiar a indústria nacional na instrução de processos internacionais respeitando as regras da OMC.
Ressalto ainda a ausência de um debate ou de um Consenso Nacional sobre nossa estratégia e política de crescimento a exemplo do Consenso de Washington e do Consenso de Beijing. Soube que o prof. Luiz Carlos Bresser Pereira (meu ex-orientador) vem trabalhando neste sentido e discutindo oportunamente formas de neutralizar a apreciação cambial.
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