A ciência econômica estuda a organização social da produção e sua distribuição. Nesse sentido, estuda o comportamento do homo economicus da mesma forma como os biólogos estudam o comportamento e a organização de diferentes espécies.
Aproveitando a proximidade com a biologia, sabemos que há pouco tempo foi descoberta na África do Sul uma bactéria que vive isolada em seu ecossistema: a D.audaxviator. É a única espécie viva de que temos notícia que é capaz de viver em completo isolamento. Uma vida auto-suficiente . Essa informação foi extraida do livro "A curiosa marcha dos grilos canibais" de Fernando Reinach.
A humanidade, como diversas outras espécies animais, necessita de outros seres vivos para garantir sua sobrevivência. É do nosso envolvimento e exploração de nosso ecossistema que organizamos nossa sobrevida. Exploramos, cultivamos, processamos, criamos, produzimos, distribuímos, reaproveitamos e consumimos garantindo dessa forma nossa sobrevivência.
Nosso polegar opositor conjugado a um cérebro desenvolvido nos permitiu criar formas de produzir, dividir o trabalho e organizar a produção não apenas para garantir nossa sobrevivência, mas também para garantir nosso bem estar entendido aqui como qualidade de vida seja o que este termo significar para você.
No entanto, somos forçados a reconhecer que os recursos são escassos se quisermos atender aos ilimitados desejos humanos. Oscilamos em organizar a produção de forma caótica permitindo que os mercados funcionem sem regulamentação e em tentar regulamentar e organizar a produção e a distribuição dos bens e serviços através do Estado. De uma forma ou de outra sempre estamos diante das conseqüências destas escolhas sejam elas o desemprego, a pobreza, a desigualdade, a exaustão dos recursos produtivos sejam a restrição à liberdade de escolher, a ausência de incentivos. Ora damos preferência às escolhas coletivas e grupais ora garantimos os direitos individuais.
Socialmente e coletivamente agimos e interagimos de forma a tornar o sonho de uma vida sem trabalho cada vez mais possível. Desenvolvemos robôs, processos automatizados, sistemas de controle que cada vez mais aumentam a produção e nossa capacidade de sobreviver sem envolver mais trabalho ou trabalhadores. Nas palavras de uma conhecida filósofa , somos uma sociedade de trabalhadores cada vez mais sem trabalho.
O lugar que ocupamos nesta sociedade depende não apenas de atributos meramente naturais (como os que dividem as abelhas rainhas das operárias), mas da posse de meios de produção ou de conhecimento. São estes os recursos que definem nossa capacidade de contribuição para a sobrevivência individual e grupal. Visto deste ângulo passamos a perceber que mais do que somos afetados pelas escolhas de governo, de chefias, de vizinhos e familiares, somos nós quem contribuímos e afetamos a vida de familiares, funcionários, cidades, empresas e nação.
Como indivíduos, nós escolhemos cotidianamente o que consumir e o quanto consumir. Escolhemos também quanto, onde e como trabalhar mesmo que muitas vezes não haja muita oportunidade para escolher (sempre podemos optar entre trabalhar e não trabalhar desde que aceitemos os custos envolvidos nestas escolhas). Nossas escolhas de trabalho definem a produção coletiva (utilizando o economês: definimos o Produto Interno Bruto) e o nível de atividade define nossa capacidade de compra. Contudo, as negociações que envolvem a definição da remuneração dos envolvidos no processo produtivo resultam em diferentes poderes de aquisição. Estes, uma vez definidos nos tornam capazes de adquirir fatias maiores ou menores do PIB. Mas, a despeito de termos capacidades diferenciadas que afetam nosso poder em escolher qual pedaço do PIB pretendemos colocar em nossos pratos, a escolha de quanto pretendemos consumir independe parcialmente da capacidade de pagar. Isto por que através do sistema bancário podemos ofertar crédito repassando aos que escolhem obter fatias maiores de consumo do que sua remuneração lhe permite comprar os recursos poupados por aqueles que escolheram consumir menos que seu poder de aquisição possibilitava. O repasse feito pelas instituições bancárias e o custo cobrado dos que tomam emprestados e os ganhos pagos aos que emprestaram dependem basicamente de escolhas individuais.
Nossas escolhas estão cada vez mais sendo definidas em função da escassez de tempo. Paramos pouco para refletir sobre nossas reais necessidades, sobre a alocação de nosso tempo e sobre a decisão de consumo. Somos fortemente impulsionados por nossas necessidades (muitas delas socialmente construídas como o desejo por marcas e a manutenção de um certo status) o que determina a necessidade de dedicarmos muitas horas para o trabalho. Roubamos de nós mesmos tempo precioso que antes dedicávamos à família, aos amigos e ao laser. E é essa roda da fortuna que nos leva a agir por impulso sem refletir sobre nossas reais necessidades. Quantas vezes paramos para planejar nosso futuro? Quanto tempo dedicamos a pensar estratégias que viabilizem projetos de vida? Quando não paramos para refletir sobre a vida nos comportamos como as inúmeras espécies vivas que os biólogos estudam. É a reflexão, a palavra e a ação escolhida que nos diferencia das demais espécies. Precisamos parar para observar e perceber o impacto de nossas escolhas sobre o nível de preços, o nível de atividade, a taxa de juros, o volume de lixo e o desmatamento que causamos.
Isso mesmo! Nosso eco-social-sistema resulta de escolhas, de trocas, de parcerias e de regras que podemos definir individualmente ou coletivamente. Em nada nos parecemos com a bactéria africana. Dependemos mutuamente. Necessitamos dividir o trabalho com sabedoria e eficiência. Muitas vezes o saber fazer não deve ser determinístico e sim o fazer melhor. Saber fazer não é fazer bem. Vejam como exemplo a produção de trigo no Brasil. Somos menos eficientes que nossa parceira comercial, a Argentina. Gastamos muito trabalho e terra para produzir quantidades de trigo significativamente inferiores quando comparamos com a rentabilidade de uma fazenda portenha. Como resultado é muito vantajoso utilizar nossas terras no cultivo de soja e com a comercialização desta obter recursos para a compra de trigo dos nossos vizinhos. Mas, saber fazer e poder fazer trigo nos confere poder de negociação uma vez que com preços elevados, se cobrados pela Argentina, podemos preferir produzir nacionalmente o trigo necessário. Em nossas empresas, somos diferentes?
Pensando nestas questões e na necessidade de começarmos a pensar em como promover o decrescimento econômico, coloquei ao lado o link da GoBiking, uma empresa de turismo ciclistico!
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