Há mais ou menos dez anos o economista Paulo Nogueira Batista alertava para os riscos de um livre fluxo de capitais acirrando um difícil debate entre economistas mais e menos liberais.
Durante esse período vivemos com uma relativa liberdade para a entrada e saída de recursos e pudemos nos beneficiar de suas vantagens como também sofremos com suas desvantagens.
Se por um lado a entrada de capitais colaborou para uma valorização do Real permitindo viagens internacionais mais baratas, importações a preços interessantes e controle da inflação, por outro lado desestimulou a atividade industrial ao reduzir sua competitividade e ampliou a fragilidade cambial financiando déficits em conta corrente.
A tendência à valorização do real está relacionada à tendência de desvalorização do dólar apenas parcialmente.
O controle inflacionário, a classificação de Risco, a taxa de juros e outros indicadores econômicos atraem capitais internacionais conferindo a tendência supra mencionada. Por outro lado, a condução da política monetária americana reduzindo juros para estimular a recuperação da economia e a aparente diminuição na demanda por dólares (consequência da mudança na política de reservas de diversos Bancos Centrais) e o descontrole sobre as contas públicas americanas* respondem pela tendência à desvalorização do dólar.
Diante dos eventos recentes e turbulentos no cenário internacional que amplia a sensação de incerteza e torna a economia brasileira ainda mais atrativa em termos relativos, o Governo Brasileiro decidiu adotar novas medidas de controle.
O jornal Estado de São Paulo publicou matéria hoje comunicando que "o governo autoriza o Conselho Monetário Nacional (CMN) a definir regras específicas para as negociações no mercado de derivativos e a tributar com o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de até 25% sobre o valor dessas operações." Além disso, o governo passou a taxar com 1% de IOF o valor nocional (valor que corresponde à intenção - se é que podemos chamar assim - de negociação e não o valor efetivamente transacionado) dos contratos futuros.
Bem, escrevi antes sobre a importância das operações derivativas na manutenção da taxa de retorno mínima requerida por acionistas e investidores. Boa parte das grandes empresas brasileiras utilizam estratégias financeiras que compensam os baixos ganhos operacionais. Assim, a taxação sobre o mercado de derivativos atinge em cheio a rentabilidade dessas empresas. Em se tratando de câmbio, há sempre um trade-off....
*Como no Brasil, a autoridade monetária Norte Americana segue a proibição de compra direta de títulos emitidos pelo Tesouro Nacional. O Federal reserve pode adquirir títulos federais no mercado aberto e, desta forma, ampliar a base monetária.
Uma declaração do presidente do Fed afastou essa possibilidade como estratégia de amenizar o impacto de um default americano caso o Congresso não aprove a elevação do teto da dívida: “I want to eliminate any expectation that the Fed through any mechanism could offset the impact of a default on the government debt”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário