sexta-feira, 22 de julho de 2011

Público x Privado

Ainda comparando as crises da Dívida na América Latina nos anos 80 e na Europa da atualidade, faltou destacar as diferenças entre o perfil dos credores. No passado, grande parte da dívida Latino Americana se concentrava nas mãos de poucos credores internacionais. Estes se constituíam de Governos, Instituições como o FMI, etc. Não estava em jogo também a continuidade de um projeto de União Monetária.
A Crise da atualidade envolve mais players: Bancos, Fundos, Países... Notícia de hoje publicada no Jornal Estado de São Paulo elenca trinta credores que vão participar da negociação relacionada à dívida Grega: "Ao todo, 30 instituições de todo o mundo, 23 da UE, três da Suíça, uma do Canadá, uma do Kuwait, uma da Coréia do Sul e uma do Peru - o Banco de Crédito do Peru -, participarão dos cortes da dívida.".
Há muito que comentar sobre esta negociação. Os aspectos políticos, a divisão do ônus entre o setor público e o privado, a heterogeneidade das nações que constituem atualmente a Zona do Euro, a estratégia utilizada para evitar riscos de contágio, " o que o Peru está fazendo financiando os Gregos?????",o futuro do Euro, o que ganhamos/perdemos com esta solução e outros que não me ocorrem agora.
Há tempo sabemos ser quase impossível para a Grécia os termos do acordo proposto no passado. A Europa arriscou por teimosia e dificuldade de articulação política, destaque dado à obtusidade Alemã, quando arrastou a situação sem propor uma solução mais efetiva. Irlanda, Portugal e Itália pagaram um alto preço assistindo ataques às suas dívidas e a elevação dos juros. O susto se concretizou quando envolveu a Itália. Rápidos, os Italianos aprovaram um pacote duro e necessário e, a despeito da oposição local desejar desgastar seu chefe de Estado, mostraram coerência e unicidade política em torno de um objetivo comum. Mas, a eminência de um alastramento que alcançasse a Espanha uniu interesses diversos e convenceu a Alemanha que os custos do impasse eram superiores.
Apesar do papel desagradável que restou à Alemanha, sua insistência em envolver os credores privados é absolutamente correta. Primeiro por que estes credores arriscaram conscientemente ao emprestar recursos à Grécia cobrando juros altos por isso. Segundo, por que foram estes mesmos credores que impuseram uma elevação de juros e a dificuldade de rolagem da dívida. Assim, promovendo uma perda para os envolvidos a Europa educa, de um modo um tanto behaviorista, o comportamento inadequado dos agentes financeiros envolvidos neste processo. Fica claro que impor dificuldades para a rolagem da dívida e alastrar o risco por toda a Europa trará como retorno perdas em lugar de ganhos.
O fortalecimento das economias Européias representa um ganho para o nosso país uma vez que temos na Europa um dos maiores destinos das exportações brasileiras. Mas, o impacto sobre o Euro é ambíguo. Por um lado, resguarda-se a continuidade da demanda por Euros uma vez mostrado que as Instituições Públicas e Privadas da União Européia realizarão quaisquer esforços necessários para a manutenção da união monetária. Por outro, o envolvimento do Banco Central Europeu na proposta atual aponta para uma possível desvalorização do Euro. Cabe esperar e ver!
Sobre o Peru....bem, escreverei sobre isso depois!

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