Impressionante observar como os americanos se auto-infligiram uma crise que poderia ter sido evitada caso o Congresso e Senado aprovasse a elevação do teto da dívida.
Cabe diferenciar a situação americana da situação das economias européias. No caso de Grécia, Portugal, Irlanda, Italia e Espanha, déficits crescentes elevaram a dívida. A percepção de que essas economias não teriam recursos suficientes para realizar o pagamento dos compromissos de dívida já assumidos levou os detentores de títulos e financiadores desses países a exigir juros mais elevados e mesmo a evitar realizar empréstimos através da compra de títulos a esses países. Portanto, essas economias enfrentaram uma restrição de fonte de financiamento. Já no caso americano, também o déficit crescente elevou a dívida. No entanto, há demanda por títulos americanos. Portanto, é possível ao governo americano realizar a venda de títulos e obter recursos necessários ao financiamento do déficit. Mas, entende o Congresso Americano que esta é uma situação que não pode sair do controle sob pena de os EUA enfrentarem no futuro dificuldades como as das economias européias. Portanto, a aprovação da elevação do teto da dívida veio condicionada à apresentação de um projeto ou alteração orçamentária que gere os recursos necessários para o pagamento futuro dessa dívida.
Quanto aos cortes, democratas e republicanos concordam em vários aspectos. Principalmente acerca dos cortes de despesas militares no Afeganistão e no Iraque. Olhando por este ângulo, os cortes são mais do que bem vindos. Mas, cortes de gastos costumam causar um impacto recessivo e a diminuição no nível de atividade reduz o resultado da arrecadação tributária mantendo o problema de equilibrar o orçamento. Uma redução no ritmo de crescimento da economia americana pode, portanto, ser esperado. E, com isso, também podemos esperar um freio na expansão da renda mundial e dos preços.
O impasse no Congresso Americano está relacionado a dois pontos básicos: o desejo democrata de combinar cortes de gastos com aumentos na arrecadação tributária (tributando em especial as corporações e os mais ricos) e se o aumento do teto será aprovado parcialmente ou na sua integralidade (considere-se aqui a solicitação de teto encaminhada pelo Tesouro Americano).
Em resumo, como o Congresso Americano não aprova a elevação da capacidade de endividamento do Governo, este não terá recursos para realizar o pagamento de seus compromissos, podendo inclusive atrasar o pagamento da dívida já contraída. Aqui a situação americana fica parecida com a das economias Européias.
Enquanto observamos essa situação, pouco destaque vem sendo dado à crise da divida Européia. Mas, nesta semana, as agências de classificação de risco reavaliam a situação da Espanha revelando que para os PIIGS os esforços de salvamento da Grécia resultaram apenas em um fôlego maior.
Um possível rebaixamento dos títulos da dívida americana deve levar a uma recomposição das carteiras administradas por grandes fundos internacionais. Buscando manter uma média de risco e retorno, a tendência é que esses fundos se desfaçam de papéis mais arriscados para manter a média desejada. Como conseqüência podemos assistir a uma diminuição na demanda por títulos com classificação inferior e até mesmo uma diminuição na demanda por títulos da Espanha precipitando uma situação que a Europa tenta evitar.
Outra situação decorrente do impasse atual é a desvalorização do dólar. Estamos observando a valorização de uma cesta de moedas em relação ao dólar levando alguns países a adotar medidas de proteção a exemplo das adotadas pelo Brasil esta semana. Um dos países que estuda a adoção de medidas que previnam a valorização de sua moeda é o Japão. A valorização do Yen diminui a competitividade e as exportações japonesas resultando em uma diminuição nas perspectivas de crescimento não desejada.
Vemos, portanto, que a dificuldade de construção de uma agenda positiva para a questão da dívida americana resultará em impactos monetários e reais indesejados e difíceis de serem previstos. Afinal, quando ouvimos alguém gritando “Corre! Fogo!” é normal sairmos correndo em lugar de procurar o extintor de incêndio!
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