segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Retrospectiva

Ano novo, presidente novo.
Chegando ao final deste ano de 2011, começo a fazer uma retrospectiva analisando alguns dos principais indicadores de desempenho da economia. Olhando os dados do PIB trimestral dessazonalizado podemos notar que o PIB total recuperou o ritmo de expansão de 2008 notadamente em função da Agricultura e de Serviços. Aparentemente, temos como estratégia a produção e exportação de produtos da agricultura brasileira que aos consumidores de notícias parece ser competitiva. Contudo, um olhar atento mostra fragilidades associadas a este setor enquanto cadeia produtiva. Primeiro, a questão logística que dissolve a competitividade do setor produtivo. Os custos de distribuição da produção constituem importante elemento de custo e de estratégia competitiva. Portanto, a ausência de meios de escoamento da produção - sejam eles por rodovias, estradas férreas ou vias fluviais ou maritmas - , o elevado custo de pedágios, a baixa qualidade do combustível brasileiro , o elevado custo e a ineficiência portuária, os gargalos aéreos, representam elemento de preocupação. A agricultura para a exportação oscila fortemente em relação ao ritmo de expansão da economia mundial. O passo lento dos ajustes europeus, sinaliza para uma desaceleração no ritmo de crescimento da economia Chinesa. Dois grandes destinos das exportações brasileiras de produtos primários. Portanto, apesar de em 2011, termos conseguido manter o ritmo de expansão das atividades agropecuárias, a ausência de estratégia, de investimentos no setor e a desaceleração no ritmo de crescimento de grandes parceiros comerciais sugerem que em 2012 o setor não tenha o mesmo desempenho. A tendência de queda nos preços internacionais combinada com a queda no volume das exportações indicam uma diminuição de desempenho que pode, mas não é provável, ser compensada por desvalorizações cambiais.
Como resultado das ações de política econômica, o aquecimento da economia doméstica explica o desempenho do setor de serviços. Puxado pela demanda apresentou um crescimento praticamente linear. Com resultados desejáveis de empregabilidade, explica em grande parte a atual taxa de desemprego, o crescimento dos salários reais e a elevação de preços medida pelo IPCA. Também aqui notamos a ausência de estratégia. Os gargalos na oferta de mão de obra qualificada não foram removidos apesar do aumento na oferta de vagas em Universidades Federais, a criação do PROUNI, a unificação do processo seletivo com o ENEM e mudanças nas regras do FIES. Aparentemente, erramos no diagnóstico acreditando que a escassez de oferta de mão de obra qualificada se devia principalmente aos elevados custos de educação superior.
Quanto à indústria, nota-se o fraco desempenho - principalmente quando comparamos com o desempenho do setor de serviços e agricultura - e a dificuldade em retomar a trajetória anterior a 2008. Os debates se concentram sobre a desindustrialização e a difícil escolha entre desvalorização e inflação ou controle inflacionário e desindustrialização. Parece que quando olhamos esse obstáculo, tiramos o olho de nossos objetivos. Com uma política tributária , no mínimo, equivocada, juros elevados, custos elevados na contratação da mão de obra e com baixa poupança doméstica combinada com a ausência de uma política industrial estruturada, a indústria brasileira sofre os resultados da competição com importados mais baratos. As ações recentes da Presidencia da República parecem dificultar politicamente a construção de uma agenda propositiva que culminasse em reformas importantes para recuperar a competitividade da indústrial local. Mais frágil diante de grupos de pressão, parece que pautam as questões nacionais as articulações em detrimento de regras.

domingo, 23 de outubro de 2011

China


Bem, enquanto o ajuste tem que ser solicitado à Grécia ou o default é Argentino, sentimos alguns abalos. Apenas isso. Mas, a crise atual parece estar atingindo a China. Percebam que não chamei de crise européia. Afinal, não se trata mesmo de uma crise local.

O fato é que a Europa é um dos maiores destinos das exportações chinesas e, em agosto/2011, o superávit comercial Chinês caiu 43,6%! (em relação ao mês anterior)

Em parte esse resultado se deve à apreciação real do Yuan causada pela inflação de 6,2%, acima da meta definida de 4,0% pelo Banco do Povo (o Banco Central Chinês). O aumento dos preços domésticos tornou as importações relativamente mais baratas. Além disso, a queda nos preços das commodities resultante da desaceleração econômica mundial contribuiu para o aumento nas importações.

A inflação também eleva custos de produção e causa uma diminuição nas margens de lucro. Na China, as margens já são reduzidas. Os ganhos estão associados à escala e não à margem. Desta forma, a pressão de preços contribui para uma desaceleração da atividade produtiva Chinesa.

Mas, olhando o balanço de pagamentos, podemos verificar que o superávit só não foi menor por que houve um aumento das exportações chinesas para a Europa e para países Asiáticos. Isso aumenta a importância da Europa sobre o desempenho Chinês. Além disso, apenas parcialmente é claro, as exportações chineses observadas neste período estão associadas à um período de sazonalidade de festas natalinas.

O que importa notar é que uma crise na Europa com redução das importações da China pode levar a uma desaceleração maior no ritmo de crescimento do dragão asiático. Trabalhamos com a perspectiva de uma queda no ritmo de crescimento Chinês mas de 10 para 8%. Os dados atuais nos permitem rever este número e prever uma queda ainda maior na taxa de crescimento Chinesa.

Uma desaceleração no crescimento Chinês torna o cenário para 2012 bastante diferente e nos faz lembrar das previsões dos Maias.... Portanto, a implementação de medidas de estímulo para a Economia Americana em lugar de discussões sobre medidas de austeridade e, a implementação de soluções para as Economias Européias serão decisivas no sentido de evitar pensar que os Maias fizeram previsões ma corretas utilizando a astrologia....

Vamos observar o resultado de hoje da reunião da cúpula da União Européia!




segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Lições do endividamento latino americano nos anos 80

Lembro como se fosse hoje do drama, do desemprego crescente combinado com inflação elevada, as reformas políticas, a desesperança associada ao elevado endividamento externo da Economia Brasileira. À época, discutíamos o tamanho do Estado, a necessidade de reformas, os acordos com o FMI e impunhamos ajustes recessivos com a finalidade de honrar compromissos externos. Em um piscar de olhos, nos voltamos contra o projeto de industrialização substitutivo de importações e abraçamos, dando boas vindas, as reformas de mercado. Hoje, olho para trás sem saudades. E, de tudo que passamos e fizemos, extraio apenas aquilo que acho que devem ser lições para o presente:
1. Não deveríamos jogar o bebê com a água do banho. Um projeto nacional de industrialização e fomento à atividade produtiva devem e são bem vindos quando seguem uma realidade de mercado e atendem a interesses coletivos (não lobbistas);
2. O mercado possui forças poderosas que devemos respeitar e usar a nosso favor. Excessos fiscais criam riscos e custos desnecessários. Criar regras para o Estado e suas Instituições criam caminhos sólidos na direção do crescimento;
3. Em tempos normais, manter o controle fiscal e monetário permitem agir discricionariamente em períodos de crise;
4. Que medidas de austeridade são necessárias para reestabelecer o equilíbrio;
5. Que apenas medidas de austeridade são insuficientes e devem ser acompanhadas de medidas de estímulo sempre que possível (como o acordo Brady para a dívida externa);
6. Que a contabilidade criativa é superada sempre pelos fundamentos macroeconômicos.

sábado, 24 de setembro de 2011

Um pouco de história sobre moedas : lições do bimetalismo

Costumo, para simplificar, iniciar a explicação sobre moeda metálica e representativa afirmando que o ouro era o metal mais utilizado por seu valor. Contudo, seu valor elevado fazia com que mesmo uma moeda muito pequena pudesse ser trocada por imensa quantidade de mercadoria. Desta forma, durante anos as sociedades e países se organizaram utilizando moedas cunhadas em prata. Estas possuíam a vantagem de ser de menor valor e podiam ser trocadas por moedas de ouro na proporção aproximada de 15,5 onças de prata por 1 onça de ouro. Mas, cada país Europeu, por exemplo, cunhava suas moedas com quantidades e purezas diferentes de prata. Além disso, mudanças na oferta dos metais alterava seu valor estimulando a arbitragem entre mercados. Imagine que essa mudança significasse poder trocar 1 onça de ouro por 16,5 onças de prata (um aumento no valor do ouro provocado por sua escassez relativa) em um país X enquanto no país Y prevalecesse a troca de 15,5 onças de prata por uma de ouro. Mesmo considerando custos de transporte, haveria estímulos para realizar a troca de 15,5 onças de prata por onças de ouro no país Y e levar o ouro para o país X e trocar por mais prata. Desta forma, a saída de prata do país Y elevaria seu valor, enquanto a entrada de prata no país X reduziria seu valor.


Diferentes relações de cunhagem estimulavam movimentos de arbitragem. Para Eichengreen, “ em vista da dificuldade de operacionalizar o padrão bimetálico, sua persistência na segunda metade do século XIX causa perplexidade”. Mas fatores técnicos como a ausência de máquinas a vapor que impediam a cunhagem de uma moeda padronizada e representativa e fatores políticos associado ao interesse dos mineiros que exerciam pressões pela continuidade do uso da moeda de prata além da facilidade de manter um padrão monetário comum que facilitava empréstimos externos, explicam por que durante muito tempo o padrão bimetálico foi mantido. Nas palavras do mesmo autor, “ as desvantagens do sistema vigente tinham de ser acentuadas antes que houvesse um incentivo para abandoná-lo”. E, ainda, “foram necessários abalos que estilhaçassem a solidariedade do bloco de países praticantes do bimetalismo para que aquele incentivo deixasse de prevalecer”.

Em 1865 uma Conferência Internacional reunia os países afetados formando a União Monetária Latina (pasmem, por Latinos entenda-se Bélgica, França, Itália e Suíça com posterior adesão da Grécia) e padronizando a cunhagem de suas moedas evitando os movimentos de arbitragem. Vários encontros se seguiram buscando soluções conjuntas e resultaram no que conhecemos como Padrão Ouro. Interessante sobre o momento anterior é notar que a Grã-Bretanha, mesmo convidada a participar da adoção de um padrão comum de cunhagem não aceitou reproduzindo o mesmo comportamento ao ser convidada a participar da zona do Euro. Ainda, a Alemanha desempenhava já àquela época papel decisivo.

Que lições podemos tirar deste momento da história? Um que padrões monetários não são eternos, dois que poderosos interesses dificultam a transição, três que dificuldades técnicas também representam empecilhos consideráveis, quatro que é necessário coordenar a transição e acomodar interesses em Conferências como a de 1865 ou a de Bretton Woods e que hoje podem constituir a pauta do G20, quinto que somente o tempo, o aprofundamendo da crise, e as crescentes desvantagens associadas a um padrão monetário movimentam os atores econômicos a buscar soluções.

No caso do Euro, penso que a deterioração das condições políticas na Grécia resultantes do alto custo do ajuste imposto à população faz crescer o estimulo a uma saída da Grécia da zona do Euro.

Por outro lado, penso que o atual padrão monetário internacional (que utiliza como moeda de troca o dólar americano, como reserva para transferências entre gerações os títulos americanos, como referência para cálculo de juros e remunerações de diferentes títulos privados e públicos as taxas de juros praticadas pelo Fed, e um sistema de taxas flutuantes com ausência de coordenação nas políticas monetárias nacionais) apesar das dificuldades já constatadas, precisará de um aprofundamento das desvantagens existentes para gerar estímulos para a criação de um novo arranjo monetário, parodiando Eichengreen.


Recomendo a leitura de Barry Eichengreen, A Globalização do Capital - Uma História do Sistema Monetário Internacional, Editora 34.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Nova zona do Euro?

Após muitas tentativas paliativas para conter a crise atual se aproxima o momento de enfrentamento definitivo da situação em que se encontram os países da Zona do Euro.


Vejo dois caminhos possíveis. O primeiro é a efetiva integração das nações européias constituindo uma federação com emissão conjunta de Eurobônus barateando o custo do financiamento para países com elevado grau de endividamento. O segundo percebe a iminência da saída da Grécia, seguida possivelmente por outros países da zona do Euro.

Dificilmente Alemanha concordará com a primeira opção por razões simples. A elevação do custo de financiamento equivale a um aumento tributário reduzindo o poder aquisitivo dos cidadãos deste país em troca de ganhos dúbios. A presença de países como Grécia, Portugal, Irlanda, Espanha e Itália enfraquecem o Euro tanto quanto o fortalecem. Explico. A possibilidade de uso da moeda Euro em diversas nações, a comum aceitação entre elas, fortalece a moeda. No entanto, a fragilidade financeira e produtiva destes países tem contribuído fortemente para um enfraquecimento do Euro. A Alemanha permanece competitiva com bons resultados no Balanço de Pagamentos, controle de preços e emprego. Portanto, os ganhos da manutenção da atual configuração da Zona do Euro são pequenos.

A segunda opção, embora não resolva o problema para os PIIGS, ameniza os custos do ajuste e são politicamente mais palatáveis para as economias endividadas. Sair da zona do Euro permite o uso de instrumentos monetários e cambiais no sentido de aumentar a competitividade e recuperar exportações, atividade produtiva e emprego. Uma desvalorização cambial da moeda local permite os resultados acima, mas encarece os custos em moeda local de pagamento da dívida contraída em Euro. Mas, as perspectivas de recuperação da capacidade de exportar indicam a possibilidade de manutenção do nível de atividade e de arrecadação diminuindo expectativas de default para países como Portugal, Espanha, Irlanda e Itália. Não incluo a Grécia, pois entendo que nem mesmo a possibilidade de forte desvalorização monetária permitirá o pagamento da dívida. A Grécia caminha a passos rápidos para um default.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Yakissoba

Vou colocar em sequência fatos históricos com a intenção de "forçar" uma relação entre eles:
Perda de dinamismo da economia americana; desvalorização do dólar; reação do Banco Central Japonês; Crise no Japão; reação do Banco Central Alemão; Fortalecimento da Comunidade Européia; Criação de uma moeda única para o que chamamos Zona do Euro; Uso de uma moeda nacional como moeda de reserva; Crescente Necessidade de Financiamento do Balanço de Pagamentos Americano; Crescente Necessidade de Financiamento das Contas do Governo Americano; Financeirização; Crise Asiática, Crise no México, Crise Russa, Crise Brasileira, Crise Argentina, Crise do Subprime; Políticas Fiscais e Monetárias Expansionistas; Exposição e Contágio Bancário; Mecanismos de transmissão monetário/financeiro sobre a economia real; Maior risco, maior a taxa de juros; Portanto, mais caro o financiamento do consumo e da atividade produtiva; Maior risco, maior o racionamento de crédito; Portanto, mais difícil a obtençao de financiamento mesmo aceitando taxas mais elevadas; Opções ou alternativas de financiamento através da emissão de debentures ou açoes acompanham o aumento das taxas de juros, tornando cara e difícil a alternativa; Depreciaçao ou queda nos preços das garantias também dificultam o acesso ao mercado de crédito; Restrições ao uso de Políticas Nacionais Monetárias e Fiscais dadas pelo endividamento.
Resultado? Quanta dívida a China pode comprar com suas reservas internacionais? Qual o impacto de um resgate ou uma mudança na composiçao das reservas Chinesas de títulos da dívida americana para títulos da dívida Italiana, Portuguesa, Irlandesa, etc.? Qual o impacto de um default da Grécia?
Pois bem, essa é a receita do Yakissoba Business!


domingo, 11 de setembro de 2011

11 de setembro

A Teoria da Hegemonia Internacional (Hegemonic Stability Theory) sugere que o sistema internacional é mais estável quando um único Estado-Nação é ou possui um poder ou dominância mundial. Não é possível encontrar ou adjetivar uma nação com a palavra hegemonia quando esta perde a habilidade de garantir sua segurança geopolítica. Também estão associados à condição hegemônica o crescimento, o tamanho e a supremacia militar ou tecnológica. O poder de liderar, promover regras internacionais através da habilidade política sustenta-se no mútuo interesse ou apóia-se na força militar projetiva.


A hegemonia de uma Nação não depende apenas de sua vontade de liderar, mas de sua capacidade de demonstrar meios para fazê-lo. Desta forma, o ataque de 11 de setembro rompe com paradigmas de força, de poder militar, de segurança nacional e, conseqüentemente ameaça a idéia de hegemonia americana e a estabilidade das relações internacionais.

A necessidade de recuperar e manter este símbolo, entre outros fatores, explicam o início de ações militares como a Guerra do Iraque. A ampliação da necessidade de financiamento dos gastos públicos decorrente de gastos elevados com as ações militares implicou em elevação do grau de endividamento dos EUA com conseqüente desregulamentação financeira que permitiu o financiamento de déficits domésticos e externos crescentes.

O governo americano apresentava até o terceiro trimestre de 2001 resultados positivos de poupança líquida e de capacidade ou necessidade líquida de financiamento. Após esse período, observam-se resultados trimestrais negativos, no conceito corrente, indicando uma crescente necessidade de financiamento (fonte: www.bea.gov). Os dados mostram o agravamento da situação das contas públicas a partir de 2001, o esforço em recuperá-las e o agravamento após 2008.

Somou-se à necessidade de financiamento interno a necessidade de equilibrar as contas externas.

O desequilíbrio externo pode ser explicado em grande parte pelo crescente desequilíbrio comercial com a China. Com base neste diagnóstico iniciam-se pressões da diplomacia americana por uma valorização do Yuan ; lembrando que os EUA não possuem a possibilidade de alterar sua taxa de câmbio por ser emissor da moeda de reserva mundial. A desvalorização ou valorização do dólar depende da ausência de reação dos demais países.

Em julho de 2003, a China anunciava sua intenção em alterar a composição de suas reservas trocando parte de suas aplicações em ativos denominados em dólar para ativos denominados em euro. Em 2004, a China concretiza sua intenção alterando a composição de suas reservas.

A desvalorização do dólar e a ameaça subjacente de sucessivas alterações na composição das reservas chinesas resultaram em equivalentes alterações nas políticas de aplicação de reservas em diversos países. A queda na demanda por dólares resultante desta escolha acelerou a desvalorização do dólar.

Em resposta à desvalorização do dólar, a partir de 2004, podemos ver crescer as taxas de juros Americanas passando de um por cento para mais de cinco por cento. O rápido aumento das taxas de juros implicava em dificuldades crescentes de pagamento de dívida contraída pelo setor privado.

No segmento de hipotecas, o elevado custo de financiamento combinado com as especificidades desta modalidade elevou a inadimplência e resultou na crise de 2008. Ressalve-se que a crise, sua proporção e contágio devem-se à ausência de regulamentação e supervisão integrada do sistema financeiro.

Para socorrer as Instituições Financeiras o Federal Reserve ampliou as possibilidades de redesconto de liquidez e reduziu a taxa de juros. Como conseqüência a rentabilidade das aplicações em títulos americanos se reduziu. Na reunião do G20 de 2009 discutia-se a desvalorização do dólar, as práticas de desvalorização competitiva e a necessidade de criação de uma moeda de reserva supranacional.

Em resumo, as ações de reação e fortalecimento da hegemonia norte-americana implicaram em descontrole fiscal e condicionaram a condução da política monetária resultando em conflitos e crise.

Como mencionado antes, os gastos com as ações no Iraque e Afeganistão impuseram custos crescentes ao Estado Americano ampliando seu déficit e seu endividamento. A venda crescente de títulos da dívida exigia demanda crescente. Parte da demanda por estes ativos, considerados seguros, se encontrava na “indústria” de derivativos. Esta, por sua vez, se associa à crise de 2008 e seus desdobramentos.

O cenário atual é o resultado de escolhas insustentáveis de política fiscal relacionadas a problemas estruturais como produtividade e competitividade e a problemas conjunturais como a queda na arrecadação relacionada à queda na produção resultante da crise de 2008.

Países competem e utilizam medidas de política macroeconômica e microeconômica em apoio à suas atividades produtivas. Países cooperam e realizam parcerias através de acordos bi e multilaterais.

A atual situação mostra a necessidade de coordenação das Políticas Monetárias.

Mostra ainda os limites fiscais dados pelo crescente endividamento e os limites para ações particularizadas. O grau de contágio e a velocidade com que processamos as perdas e ganhos tanto quanto a grandiosidade dos fluxos financeiros mostra as limitações no uso de instrumentos tradicionais de política monetária, fiscal e cambial. Torna-se necessária a reestruturação da dívida mundial.

Assim, a cooperação para a reestruturação das dívidas e para a definição de equivalências cambiais é necessária para uma maior estabilidade política.

Acordos bilaterais ou regionais de comércio podem servir de estímulo ao comércio, à produção e ao emprego em detrimento dos instrumentos keynesianos de política econômica. No entanto, cooperar implica também em ceder. É a dificuldade nas negociações e na construção de uma agenda positiva para o comércio entre nações que justifica o uso de instrumentos de política monetária e fiscal.

O momento atual mostra os limites da globalização dados pelos limites geográficos que confinam poder e riqueza e que são conhecidos como Estado-Nação.

O crescente endividamento norte americano resultante em parte da perda de dinamismo desta economia e em parte da necessidade de financiar gastos crescentes pautou na última eleição norte americana a necessidade de uma mudança tributária. As propostas eram antagônicas entre os candidatos. Enquanto McCain propunha um aumento na carga tributária sobre as famílias, Obama propôs um aumento nos encargos sobre as Corporações e Fortunas. No discurso, McCain alertava para a dificuldade em ampliar o esforço tributário de Corporações já pouco competitivas, enquanto Obama apontava para a dificuldade em cobrar mais impostos em um país onde cresce a desigualdade. Portanto, a eleição de Obama responde à necessidade de financiamento crescente com um tom populista e ineficaz no sentido de corrigir o problema herdado.

Quanto à Crise do Euro, conforme mencionado anteriormente, as opções fiscais combinadas com a crise de 2008 e as reações de estimulo fiscal e monetário expuseram a fragilidade da união monetária entre países com profundas diferenças fiscais e produtivas.

Herdamos do 11 de setembro uma seqüência de eventos e decisões que redesenham a ordem econômica mundial e que, pela via financeira, desestrutura a organização produtiva nos espaços nacionais exigindo um esforço crescente de cooperação.



domingo, 28 de agosto de 2011

Tempo para um remédio diferente: acordos bilaterais

Recentemente Nouriel Roubini, em entrevista, afirmou que é necessário manter fortes estímulos fiscais ou realizar uma reestruturação da dívida mundial para evitar recessão e desemprego.
Não precisamos pensar muito para ver o equívoco das saídas apresentadas. Quase como apagar o fogo com gasolina. Por trás do elevado endividamento mundial temos fortes problemas fiscais combinados com ausência de regulamentação. Desta forma, um processo de “financeirização” que guarda em si uma possibilidade de monetização funcionou como estratégia de financiamento. Mas, essa massa financeira busca oportunidades de valorização e segurança. Mesmo pequenos movimentos podem causar fortes impactos: abruptas desvalorizações monetárias, moratórias negociadas da dívida, elevações de preço.
No cerne da crise há um descompasso entre a produção e a “financeirização”. A elevação dos estímulos fiscais, remédio adequado em outros momentos, implica em emissão de títulos como meio de financiamento e amplia o problema atual na medida em que os déficits cresçam e o temor de uma incapacidade de pagamento apareça. Uma política monetária expansionista também não tem mostrado resultados expressivos (veja o caso Norte Americano). Não há taxas de juros baixas capazes de estimular o investimento privado em tempos de crise. E, a monetização da dívida promove rápido crescimento dos preços o que, de certa forma, pode ser uma solução por corroer essa massa financeira.
Mas, uma das conseqüências da expansão monetária, que é a desvalorização da moeda local, pode ser substituída por acordos comerciais bilaterais. A garantia de exportações consolidada em acordos mantém a demanda agregada, a produção e o emprego sem a necessidade dos estímulos econômicos tradicionais.
A utilização de meios de política fiscal e monetária expansionista sempre foram adequados ao combate da recessão e do desemprego em óticas nacionais mas não o são diante de uma realidade de crise global. É tempo para a cooperação como forma de manutenção do crescimento. Mas, como garantir ou connstruir a cooperação entre desiguais?
Tempo para um novo G-20!

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Dívida

Enquanto a dívida Japonesa foi rebaixada para Aa3, a Brasileira foi para Aa2!
Resultado divulgado pelo Governo mostra uma redução na dívida pública federal em torno de 4%. Parece que aprendemos a lição. No entanto, controlar a dívida e sua evolução pretendia, entre outras coisas, colaborar na redução dos juros associados à percepção de risco.
Um olhar pouco atento nos mostra que tanto não conseguimos a almejada redução dos juros como continuamos a gerar resultados nominais negativos em função da elevada despesa de juros.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Projetos de Internacionalizaçao e Pesquisa Discente

Hoje estou comemorando a oferta da Oficina do Projeto Rutas del Conocimiento e o fato de termos viabilizado o curso International Business and Economics!

O primeiro faz parte de um esforço em incentivar alunos da Graduação da ESPM a propor projetos de pesquisa e a realização de investigações que alimentem a produção científica do Núcleo de Estudos de América Latina (NEALC). A proposta combina a oferta de uma oficina multidisciplinar combinada com a realização de uma viagem de estudo de meio em dezembro.

Já o curso International Business and Economics se realizará em janeiro de 2012 e combina visitas a empresas, instituições, palestras e mini curso em quatro países: Frankfurt, Bélgica, Luxemburgo e França!

domingo, 31 de julho de 2011

Política

Impressionante a força que alguns movimentos e idéias tem. Ainda sobre a discussão acerca da elevação do teto da dívida norte americana, cabe avaliar o que estava por trás do impasse.
Mesmo não sendo da minha área, me arrisco aqui a escrever um pouco sobre essa questão.
Propostas como a da elevação do teto exigem que tanto o Congresso quanto o Senado aprovem a mesma proposta. Sendo assim, uma vez aprovada pelo Congresso uma cópia exata é enviada ao Senado e, após análise, levada a votação. Caso o Senado aprove a proposta com alterações, o projeto volta ao Congresso para ser votado novamente.
Como vimos, o impasse maior estava no Congresso. Um Congresso de maioria republicana e, portanto, de oposição. Apostavamos que uma vez obtida a aprovação do Congresso a proposta seria rapidamente aprovada pelo Senado que tem em sua maioria Democratas.
Bem, primeiro temos no Congresso um partido Republicano fragmentado e portanto com frágil liderança. Por diversas vezes lemos sobre o GOP, o Tea Party, o Grupo dos seis.... Afinal, do que se trata?
GOP é a abreviatura de Grand Old Party ou Grande Antigo Partido. Trata-se portanto de um apelido dado para o Partido Republicano. Conservadores e liberais são favoráveis a um orçamento equilibrado e fizeram oposição dura a um aumento de impostos como alternativa de redução do déficit público.
Já o Tea Party refere-se a um movimento também conservador com características populistas em um sentido diverso daquele que estamos acostumados a utilizar. O nome faz referencia a um antigo movimento em que os Americanos questionavam o monopólio Ingles do comércio de chá. É um movimento supra partidário apesar de suas opiniões serem muito similares às dos Republicanos. Questionam o tamanho do Estado na economia, a necessidade de redução de impostos, se preocupam com a elevação do déficit e da dívida. O Tea Party cresceu após a crise de 2008.
O grupo dos seis (que em inglês fica Gang of Six) é um grupo também suprapartidário. Mas, um grupo do Senado americano.
Voltando ao Congresso, bastante representativo uma vez que pondera por população o número de cadeiras na casa, vemos que a maioria dos americanos está representado por Republicanos, liberais e conservadores. Do ponto de vista do receituário de política econômica, entendem que o Estado não deve ser caro e custoso. Entendem que a responsabilidade da construção de uma economia forte e uma sociedade justa está nas escolhas individuais e não em ações do governo.
Já o Senado, com forte presença de Democratas, entende que a recuperação da economia americana está na coordenação de gastos viabilizada pelo Governo que elevando a demanda agregada estimula a atividade econômica. Aprovam também a tributação das riquezas e maiores rendas como forma de corrigir distorções.
Bem, escrevi isto por um motivo. Estou lendo um livro sobre a China que mostra como o Império sucumbiu ao não perceber movimentos políticos que acabaram se tornando expressivos e incontroláveis. Impossível não associar as dificuldades na negociação atual com a leitura.....

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Difícil situação

Impressionante observar como os americanos se auto-infligiram uma crise que poderia ter sido evitada caso o Congresso e Senado aprovasse a elevação do teto da dívida.
Cabe diferenciar a situação americana da situação das economias européias. No caso de Grécia, Portugal, Irlanda, Italia e Espanha, déficits crescentes elevaram a dívida. A percepção de que essas economias não teriam recursos suficientes para realizar o pagamento dos compromissos de dívida já assumidos levou os detentores de títulos e financiadores desses países a exigir juros mais elevados e mesmo a evitar realizar empréstimos através da compra de títulos a esses países. Portanto, essas economias enfrentaram uma restrição de fonte de financiamento. Já no caso americano, também o déficit crescente elevou a dívida. No entanto, há demanda por títulos americanos. Portanto, é possível ao governo americano realizar a venda de títulos e obter recursos necessários ao financiamento do déficit. Mas, entende o Congresso Americano que esta é uma situação que não pode sair do controle sob pena de os EUA enfrentarem no futuro dificuldades como as das economias européias. Portanto, a aprovação da elevação do teto da dívida veio condicionada à apresentação de um projeto ou alteração orçamentária que gere os recursos necessários para o pagamento futuro dessa dívida.
Quanto aos cortes, democratas e republicanos concordam em vários aspectos. Principalmente acerca dos cortes de despesas militares no Afeganistão e no Iraque. Olhando por este ângulo, os cortes são mais do que bem vindos. Mas, cortes de gastos costumam causar um impacto recessivo e a diminuição no nível de atividade reduz o resultado da arrecadação tributária mantendo o problema de equilibrar o orçamento. Uma redução no ritmo de crescimento da economia americana pode, portanto, ser esperado. E, com isso, também podemos esperar um freio na expansão da renda mundial e dos preços.
O impasse no Congresso Americano está relacionado a dois pontos básicos: o desejo democrata de combinar cortes de gastos com aumentos na arrecadação tributária (tributando em especial as corporações e os mais ricos) e se o aumento do teto será aprovado parcialmente ou na sua integralidade (considere-se aqui a solicitação de teto encaminhada pelo Tesouro Americano).
Em resumo, como o Congresso Americano não aprova a elevação da capacidade de endividamento do Governo, este não terá recursos para realizar o pagamento de seus compromissos, podendo inclusive atrasar o pagamento da dívida já contraída. Aqui a situação americana fica parecida com a das economias Européias.
Enquanto observamos essa situação, pouco destaque vem sendo dado à crise da divida Européia. Mas, nesta semana, as agências de classificação de risco reavaliam a situação da Espanha revelando que para os PIIGS os esforços de salvamento da Grécia resultaram apenas em um fôlego maior.
Um possível rebaixamento dos títulos da dívida americana deve levar a uma recomposição das carteiras administradas por grandes fundos internacionais. Buscando manter uma média de risco e retorno, a tendência é que esses fundos se desfaçam de papéis mais arriscados para manter a média desejada. Como conseqüência podemos assistir a uma diminuição na demanda por títulos com classificação inferior e até mesmo uma diminuição na demanda por títulos da Espanha precipitando uma situação que a Europa tenta evitar.
Outra situação decorrente do impasse atual é a desvalorização do dólar. Estamos observando a valorização de uma cesta de moedas em relação ao dólar levando alguns países a adotar medidas de proteção a exemplo das adotadas pelo Brasil esta semana. Um dos países que estuda a adoção de medidas que previnam a valorização de sua moeda é o Japão. A valorização do Yen diminui a competitividade e as exportações japonesas resultando em uma diminuição nas perspectivas de crescimento não desejada.
Vemos, portanto, que a dificuldade de construção de uma agenda positiva para a questão da dívida americana resultará em impactos monetários e reais indesejados e difíceis de serem previstos. Afinal, quando ouvimos alguém gritando “Corre! Fogo!” é normal sairmos correndo em lugar de procurar o extintor de incêndio!

quarta-feira, 27 de julho de 2011

A caminho do controle do fluxo de capitais

Há mais ou menos dez anos o economista Paulo Nogueira Batista alertava para os riscos de um livre fluxo de capitais acirrando um difícil debate entre economistas mais e menos liberais.
Durante esse período vivemos com uma relativa liberdade para a entrada e saída de recursos e pudemos nos beneficiar de suas vantagens como também sofremos com suas desvantagens.
Se por um lado a entrada de capitais colaborou para uma valorização do Real permitindo viagens internacionais mais baratas, importações a preços interessantes e controle da inflação, por outro lado desestimulou a atividade industrial ao reduzir sua competitividade e ampliou a fragilidade cambial financiando déficits em conta corrente.
A tendência à valorização do real está relacionada à tendência de desvalorização do dólar apenas parcialmente.
O controle inflacionário, a classificação de Risco, a taxa de juros e outros indicadores econômicos atraem capitais internacionais conferindo a tendência supra mencionada. Por outro lado, a condução da política monetária americana reduzindo juros para estimular a recuperação da economia e a aparente diminuição na demanda por dólares (consequência da mudança na política de reservas de diversos Bancos Centrais) e o descontrole sobre as contas públicas americanas* respondem pela tendência à desvalorização do dólar.
Diante dos eventos recentes e turbulentos no cenário internacional que amplia a sensação de incerteza e torna a economia brasileira ainda mais atrativa em termos relativos, o Governo Brasileiro decidiu adotar novas medidas de controle.
O jornal Estado de São Paulo publicou matéria hoje comunicando que "o governo autoriza o Conselho Monetário Nacional (CMN) a definir regras específicas para as negociações no mercado de derivativos e a tributar com o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de até 25% sobre o valor dessas operações." Além disso, o governo passou a taxar com 1% de IOF o valor nocional (valor que corresponde à intenção - se é que podemos chamar assim - de negociação e não o valor efetivamente transacionado) dos contratos futuros.
Bem, escrevi antes sobre a importância das operações derivativas na manutenção da taxa de retorno mínima requerida por acionistas e investidores. Boa parte das grandes empresas brasileiras utilizam estratégias financeiras que compensam os baixos ganhos operacionais. Assim, a taxação sobre o mercado de derivativos atinge em cheio a rentabilidade dessas empresas. Em se tratando de câmbio, há sempre um trade-off....

*Como no Brasil, a autoridade monetária Norte Americana segue a proibição de compra direta de títulos emitidos pelo Tesouro Nacional. O Federal reserve pode adquirir títulos federais no mercado aberto e, desta forma, ampliar a base monetária.
Uma declaração do presidente do Fed afastou essa possibilidade como estratégia de amenizar o impacto de um default americano caso o Congresso não aprove a elevação do teto da dívida: “I want to eliminate any expectation that the Fed through any mechanism could offset the impact of a default on the government debt”.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Desvalorização do Real

Matéria publicada hoje no jornal Valor Econômico afirma que Bancos estão mantendo posição comprada em dólares. Isso aponta para uma expectativa de desvalorização do real e valorização do dólar.
Por que trabalhar com esta expectativa se o dólar vem caindo constantemente a ponto de provocar divergências nas declarações da Presidente da República e seu Ministro da Economia acerca da necessidade de controlar a valorização do real?
Bem, o que parece estar na mira dos Bancos é a percepção de que já é tarde para ocorrer um acordo entre Democratas e Republicanos sobre o teto da dívida dos EUA. Assim, a proximidade de 02 de agosto e a dificuldade de construção de um acordo no Congresso Americano sinalizam para uma elevação dos juros nos Estados Unidos. Explicarei melhor. No Brasil, a elevação dos juros não ocorre com agilidade. É necessário realizar uma reunião do Conselho de Política Monetária (COPOM) para decidir nova meta de juros. Desta forma, a elevação dos juros americanos ocorrerá de forma unilateral (não será acompanhada por uma elevação da taxa brasileira com a mesma velocidade). Com juros mais elevados fora do Brasil, os agentes econômicos tendem a rever suas aplicações e, os mais aversos a risco, provavelmente buscarão ativos externos agora com melhor remuneração. Com isso, uma saída de capitais deverá ocorrer provocando uma desvalorização do real.
Bem, resta aguardar e ver o tamanho desta desvalorização! Para o bem de quem passou as férias gastando no cartão de crédito, vamos torcer para ser pequena...e, para o bem da indústria brasileira e de nossos empregos, vamos torcer para que dure bastante!

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Público x Privado

Ainda comparando as crises da Dívida na América Latina nos anos 80 e na Europa da atualidade, faltou destacar as diferenças entre o perfil dos credores. No passado, grande parte da dívida Latino Americana se concentrava nas mãos de poucos credores internacionais. Estes se constituíam de Governos, Instituições como o FMI, etc. Não estava em jogo também a continuidade de um projeto de União Monetária.
A Crise da atualidade envolve mais players: Bancos, Fundos, Países... Notícia de hoje publicada no Jornal Estado de São Paulo elenca trinta credores que vão participar da negociação relacionada à dívida Grega: "Ao todo, 30 instituições de todo o mundo, 23 da UE, três da Suíça, uma do Canadá, uma do Kuwait, uma da Coréia do Sul e uma do Peru - o Banco de Crédito do Peru -, participarão dos cortes da dívida.".
Há muito que comentar sobre esta negociação. Os aspectos políticos, a divisão do ônus entre o setor público e o privado, a heterogeneidade das nações que constituem atualmente a Zona do Euro, a estratégia utilizada para evitar riscos de contágio, " o que o Peru está fazendo financiando os Gregos?????",o futuro do Euro, o que ganhamos/perdemos com esta solução e outros que não me ocorrem agora.
Há tempo sabemos ser quase impossível para a Grécia os termos do acordo proposto no passado. A Europa arriscou por teimosia e dificuldade de articulação política, destaque dado à obtusidade Alemã, quando arrastou a situação sem propor uma solução mais efetiva. Irlanda, Portugal e Itália pagaram um alto preço assistindo ataques às suas dívidas e a elevação dos juros. O susto se concretizou quando envolveu a Itália. Rápidos, os Italianos aprovaram um pacote duro e necessário e, a despeito da oposição local desejar desgastar seu chefe de Estado, mostraram coerência e unicidade política em torno de um objetivo comum. Mas, a eminência de um alastramento que alcançasse a Espanha uniu interesses diversos e convenceu a Alemanha que os custos do impasse eram superiores.
Apesar do papel desagradável que restou à Alemanha, sua insistência em envolver os credores privados é absolutamente correta. Primeiro por que estes credores arriscaram conscientemente ao emprestar recursos à Grécia cobrando juros altos por isso. Segundo, por que foram estes mesmos credores que impuseram uma elevação de juros e a dificuldade de rolagem da dívida. Assim, promovendo uma perda para os envolvidos a Europa educa, de um modo um tanto behaviorista, o comportamento inadequado dos agentes financeiros envolvidos neste processo. Fica claro que impor dificuldades para a rolagem da dívida e alastrar o risco por toda a Europa trará como retorno perdas em lugar de ganhos.
O fortalecimento das economias Européias representa um ganho para o nosso país uma vez que temos na Europa um dos maiores destinos das exportações brasileiras. Mas, o impacto sobre o Euro é ambíguo. Por um lado, resguarda-se a continuidade da demanda por Euros uma vez mostrado que as Instituições Públicas e Privadas da União Européia realizarão quaisquer esforços necessários para a manutenção da união monetária. Por outro, o envolvimento do Banco Central Europeu na proposta atual aponta para uma possível desvalorização do Euro. Cabe esperar e ver!
Sobre o Peru....bem, escreverei sobre isso depois!

domingo, 17 de julho de 2011

Rumo incerto

No passado, os países em crise em função de seu elevado endividamento público eram economias pequenas, incapazes de afetar a renda mundial e o nível de preços. Amargamos anos de políticas econômicas equivocadas. Gerações interrompidas. Décadas perdidas em busca de solução. Ao final, um pronunciamento do então secretário do Tesouro norte americano, Nicholas Brady, pareceu ser um luz ao fim do longo túnel. Percebia-se que as políticas recessivas inviabilizavam a capacidade de pagamento da dívida. E, em um discurso relativamente simples, anunciava-se que se os credores quizessem receber de volta os recursos emprestados deveriam socorrer e ajudar os devedores. Em bom português, arrume emprego para a pessoa a quem você emprestou o dinheiro! O acordo que permitiu o deságio na dívida externa veio acompanhado de abertura dos mercados, reformas e novas possibilidades de realização de ganhos. Pergunto-me: será que os credores ficaram satisfeitos com o acordo?
Bem, décadas depois, vivemos situação mundial parecida. A semelhança está no endividamento e nas medidas recessivas. Mas, para por ai. São economias grandes, capazes de afetar o crescimento mundial e preços internacionais: Estados Unidos, Espanha, Itália e os pequenos Grécia, Irlanda e Portugal.
Há semanas estamos assistindo a agonia da Grécia, as dificuldades de Portugal, a urgência na Itália e o desgaste político do presidente Obama. No conjunto as propostas são equivalentes. Cortes de gastos que incluem novos pactos previdenciários, cogelamento de salarios de servidores públicos, menor despesa com saúde, etc. Questiona-se a sustentabilidade de um Estado forte com contratos sociais em que prevalecem gastos sociais e políticas de bem estar social.
Parece-me claro que um orçamento equilibrado é o recomendável em todos os tempos e que o desequilíbrio orçamentário é resultado de um Estado fraco, incapaz de arrecadar o suficiente e pressionado por realizações de pesados gastos. Mas, os desequilíbrios atuais resultam não apenas da fraqueza do Estado. Resultam basicamente de mais dois outros motivos: 1. Com a crise e seu impacto recessivo as receitas tributárias cairam resultando em dificuldade de pagamento da dívida e 2. Estruturas de oferta pouco produtivas seja por deficiência no sistema de ensino, seja por acordos rígidos no mercado de trabalho. Desta forma, a incapacidade de aumentar a produção exige no curto prazo políticas que estimulem a demanda agregada como forma de elevar o PIB e a arrecadação.
Outra diferença entre a crise de endividamento atual e a passada é a forma de financiamento utilizada pelos países endividados. No passado as economias latino americanas e africanas recorreram a empréstimos contratuais junto a credores internacionais e, domesticamente, recorreram a emissões monetárias desencadeando processos inflacionários. O equacionamento da dívida requeria fortes ajustes no balanço de pagamentos para gerar superávits capazes de pagar ao menos o serviço das dívidas e audaciosos ajustes fiscais para conter a emissão monetária e os processos innflacionários que impediam (entre outras coisas) a geração de superávits externos. Na atualidade, os países endividados utilizaram-se de emissões de títulos fazendo crescer a dívida mobiliária e não a contratual. Por sua natureza, a dívida em títulos pode ser repassada com maior facilidade a agentes econômicos com menor aversão a risco. Não há como conhecer a extensão e o perfil de quem hoje detém esses títulos. Portanto, um default ou a mera possibilidade de um default tem potencial de impactar um número infinitamente maior de agentes econômicos e países. Eis por que nesta semana que passou estávamos apreensivos esperando o resultado dos testes de stress a que vários bancos europeus foram submetidos. Os testes acalmaram um pouco as expectativas mais alarmistas. Contudo, não afastam a possibilidade de um contágio e uma crise maior.
Estamos diante de uma situação muito mais complexa portanto. Seja em função do tamanho das economias endividadas, seja em função da razão do endividamento, seja em função da integração do mercado financeiro e possibilidade de contágio. Isso significa que, apesar da crise não se localizar geograficamente em países como o Brasil, podemos sofrer com as consequencias dela!
Diante da gravidade da atual situação, a adoção de políticas recessivas aponta para um cenário não desejável. A geração de superávits primários garantem a possibilidade de pagamento da dívida mas, não resolve os problemas estruturais que a causaram. Além disso, essas medidas resultam em queda no desempenho econômico e, portanto, na arrecadação tributária fazendo com que sejam necessárias novas medidas de ajuste.
Parece-me portanto que a capacidade de articulação política e o enfrentamento dos problemas estruturais é que devem ser observados no presente momento!

terça-feira, 5 de julho de 2011

Em tempo!

Do site do Fed (http://www.federalreserve.gov), vem a notícia:
"Release Date: June 29, 2011
For release at 9:00 a.m. EDT
The Bank of Canada, the Bank of England, the European Central Bank, the Federal Reserve, and the Swiss National Bank today announced an extension of the existing temporary U.S. dollar liquidity swap arrangements through August 1, 2012. The Bank of Japan will consider the extension at its next Monetary Policy Meeting. The swap arrangements, established in May 2010, had been authorized through August 1, 2011.
Information on the actions taken by other central banks is available at the following websites:
Bank of Canada,Bank of England,European Central Bank ,Swiss National Bank "

A swap a que se refere o texto é uma troca de moedas utilizada por um Banco Central para prover liquidez em sua moeda a outro Banco Central. Essas operações, portanto, oferecem liquidez em dólar em mercados estrangeiros como o Canadense, o Europeu, o Inglês e o Suiço. O Brasil conseguiu realizar um acordo de swap recentemente!

O Valor do dólar!

Gosto de periodicamente consultar no site www.bea.gov informações sobre a execução orçamentária norte americana! A última linha mostra o resultado do governo. Os dados de 1999 mostram um pequeno superávit orçamentário que rapidamente se transforma em um déficit (já em 2001). Um déficit crescente, à excessão de um esforço de contenção realizado em 2006.
Hoje o déficit trimestral gira em torno de 1bilhão e 500milhões de dólares!Ou, 500 bilhões mensais! Ora, como é financiado o excesso de gastos do Governo Norte Americano? Normalmente através da emissão de títulos da dívida que são vendidos a cidadãos norte americanos, governos de outros países e para o próprio Federal Reserve. Desta forma, o déficit americano se transforma parcialmente em dívida e parcialmente em expansão monetária.
Os títulos constituem "promessas de pagamento no futuro" e, portanto, documentam uma relação de endividamento. Mas, quando vendidos ao Federal Reserve, este pode "emitir" moeda e efetuar a compra dos títulos.
O Congresso Americano decide qual o limite do endividamento. Uma vez aprovado, o Secretário do Tesouro conhece as limitações tributárias para a cobertura das despesas públicas e sua capacidade de praticar déficits e realizar dívidas.
As teses de dominância fiscal relacionam a Política Monetaria às escolhas do Governo. No caso Norte Americano, a oferta crescente de títulos deveria ser acompanhada de uma redução no preço dos mesmos e em uma elevação de juros. Como isso nao vem ocorrendo, há duas possíveis explicações facilmente verificáveis. Uma delas é supor um aumento na demanda por títulos americanos e, diante do cenário internacional e da escassez de alternativas, é fácil entender por que há demanda pelos mesmos. Outra é imaginar que o financiamento vem ocorrendo com expansão na oferta monetária. Neste caso uma desvalorização do dólar frente a uma cesta de moedas é esperada.
Neste mês de julho de 2011, o Congresso Americano discute a possibilidade de aumento do teto estabelecido como limite ao endividamento. Há muito o que compreender a partir dessa informação. Primeiro que há uma guerra de braço entre republicanos e democratas acerca da contenção dos gastos públicos (lembrando o quanto os Americanos apreciam lembrar aos demais países a necessidade de manter orçamentos equilibrados!). Segundo que essa guerra afeta as expectativas dos agentes econômicos apontando para um limite à política atual. Como consequencia podemos esperar medidas contracionistas ou uma estagnação da economia dos EUA. Terceiro, que se torna cada vez mais importante discutir alternativas ao Sistema Monetário Internacional atual. Quarto que há espaço para a internacionalização de algumas moedas como o Euro (não fosse a Grécia...), o Iene (não fosse o Tsunami....), a China (não fosse... o que mesmo?)... Quinto, que para manter o valor do dólar, a taxa de juros americana vai se elevar. Sexto, que é possível ao governo americano optar por desvalorizar ainda mais sua moeda se no cenário internacional as alternativas monetárias listadas acima se mantiverem questionáveis. Sétimo e por último, há alguns anos reparei que havia títulos americanos que prometiam o pagamento de juros reais mais a variação de preços, o cenário atual amplia a desconfiança em relação ao Fed e (nós Brasileiros já aprendemos BEM isso...) em cenários de pouca confiança em relação à autoridade monetária os preços costumam subir!
Costumamos explicar a elevação dos preços e, em especial das commodities, em função de acidentes climáticos, sazonalidades, etc. Mas, em que medida a busca por commodities no presente e no futuro não pode ser explicada como uma estratégia defensiva diante de expectativas deterioradas acerca do valor do dólar???????

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Geithner

Pelo adiantado da hora, não vou me estender no assunto.... Mas, eu não poderia deixar de postar algumas palavras sobre o impasse Geithner e o teto da dívida americana.
O assunto se arrasta desde o início do ano.... Em verdade, o limite de endividamento foi alcançado a passos rápidos e, recentemente, agências de classificação de risco alertaram para o fato.
Em bom português, isso significa que o Governo Americano não possui recursos tributários para fazer o pagamento de seus compromissos (entre estes o pagamento de benefícios,manutenção da máquina pública, etc...). O déficit tem sido financiado com a emissão de títulos da dívida. Diversos países e o próprio Federal Reserve compram estes títulos. No entanto, ao atingir o limite de endividamento, ao Governo Americano resta a alternativa de começar a suspender e a atrasar pagamentos diversos. Outra alternativa é adotar um pacote de medidas como o pacote aprovado pelo parlamento Grego. Essas medidas são consideradas contracionistas por seu efeito sobre o nível de atividade. Cortes nos gastos públicos e elevação tributária resultam em uma diminuição dos gastos agregados (consumo, despesas de investimento produtivo, gastos públicos, exportações líquidas). As empresas reagem reduzindo a produção face à dificuldade em realizar vendas. Produzindo menos, são necessários menos trabalhadores. Portanto, as consequencias são uma redução no nível de atividade e aumento na taxa de desemprego! Como os Estados Unidos ainda lutam para se recuperar da crise de 2008, as medidas contracionistas são mais do que indesejadas!
Ciente dos resultados, Geithner vem alertando o Governo Americano, desde o início do ano, que é necessário ampliar o limite de endividamento. Diante da ausência de resposta, o secretário ameaça colocar seu cargo à disposição. Esta é uma pauta importante para esta semana; pois a autorização e elevação do limite de endividamento podem permitir expansão na oferta monetária com consequente redução da taxa de juros (se adquiridos pelo FED) ou forçar uma queda no preço dos títulos resultando em elevação da taxa de juros.
Semana difícil para nomes que começam com a letra G.....

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Decrescimento Econômico

A ciência econômica estuda a organização social da produção e sua distribuição. Nesse sentido, estuda o comportamento do homo economicus da mesma forma como os biólogos estudam o comportamento e a organização de diferentes espécies.
Aproveitando a proximidade com a biologia, sabemos que há pouco tempo foi descoberta na África do Sul uma bactéria que vive isolada em seu ecossistema: a D.audaxviator. É a única espécie viva de que temos notícia que é capaz de viver em completo isolamento. Uma vida auto-suficiente . Essa informação foi extraida do livro "A curiosa marcha dos grilos canibais" de Fernando Reinach.
A humanidade, como diversas outras espécies animais, necessita de outros seres vivos para garantir sua sobrevivência. É do nosso envolvimento e exploração de nosso ecossistema que organizamos nossa sobrevida. Exploramos, cultivamos, processamos, criamos, produzimos, distribuímos, reaproveitamos e consumimos garantindo dessa forma nossa sobrevivência.
Nosso polegar opositor conjugado a um cérebro desenvolvido nos permitiu criar formas de produzir, dividir o trabalho e organizar a produção não apenas para garantir nossa sobrevivência, mas também para garantir nosso bem estar entendido aqui como qualidade de vida seja o que este termo significar para você.
No entanto, somos forçados a reconhecer que os recursos são escassos se quisermos atender aos ilimitados desejos humanos. Oscilamos em organizar a produção de forma caótica permitindo que os mercados funcionem sem regulamentação e em tentar regulamentar e organizar a produção e a distribuição dos bens e serviços através do Estado. De uma forma ou de outra sempre estamos diante das conseqüências destas escolhas sejam elas o desemprego, a pobreza, a desigualdade, a exaustão dos recursos produtivos sejam a restrição à liberdade de escolher, a ausência de incentivos. Ora damos preferência às escolhas coletivas e grupais ora garantimos os direitos individuais.
Socialmente e coletivamente agimos e interagimos de forma a tornar o sonho de uma vida sem trabalho cada vez mais possível. Desenvolvemos robôs, processos automatizados, sistemas de controle que cada vez mais aumentam a produção e nossa capacidade de sobreviver sem envolver mais trabalho ou trabalhadores. Nas palavras de uma conhecida filósofa , somos uma sociedade de trabalhadores cada vez mais sem trabalho.
O lugar que ocupamos nesta sociedade depende não apenas de atributos meramente naturais (como os que dividem as abelhas rainhas das operárias), mas da posse de meios de produção ou de conhecimento. São estes os recursos que definem nossa capacidade de contribuição para a sobrevivência individual e grupal. Visto deste ângulo passamos a perceber que mais do que somos afetados pelas escolhas de governo, de chefias, de vizinhos e familiares, somos nós quem contribuímos e afetamos a vida de familiares, funcionários, cidades, empresas e nação.
Como indivíduos, nós escolhemos cotidianamente o que consumir e o quanto consumir. Escolhemos também quanto, onde e como trabalhar mesmo que muitas vezes não haja muita oportunidade para escolher (sempre podemos optar entre trabalhar e não trabalhar desde que aceitemos os custos envolvidos nestas escolhas). Nossas escolhas de trabalho definem a produção coletiva (utilizando o economês: definimos o Produto Interno Bruto) e o nível de atividade define nossa capacidade de compra. Contudo, as negociações que envolvem a definição da remuneração dos envolvidos no processo produtivo resultam em diferentes poderes de aquisição. Estes, uma vez definidos nos tornam capazes de adquirir fatias maiores ou menores do PIB. Mas, a despeito de termos capacidades diferenciadas que afetam nosso poder em escolher qual pedaço do PIB pretendemos colocar em nossos pratos, a escolha de quanto pretendemos consumir independe parcialmente da capacidade de pagar. Isto por que através do sistema bancário podemos ofertar crédito repassando aos que escolhem obter fatias maiores de consumo do que sua remuneração lhe permite comprar os recursos poupados por aqueles que escolheram consumir menos que seu poder de aquisição possibilitava. O repasse feito pelas instituições bancárias e o custo cobrado dos que tomam emprestados e os ganhos pagos aos que emprestaram dependem basicamente de escolhas individuais.
Nossas escolhas estão cada vez mais sendo definidas em função da escassez de tempo. Paramos pouco para refletir sobre nossas reais necessidades, sobre a alocação de nosso tempo e sobre a decisão de consumo. Somos fortemente impulsionados por nossas necessidades (muitas delas socialmente construídas como o desejo por marcas e a manutenção de um certo status) o que determina a necessidade de dedicarmos muitas horas para o trabalho. Roubamos de nós mesmos tempo precioso que antes dedicávamos à família, aos amigos e ao laser. E é essa roda da fortuna que nos leva a agir por impulso sem refletir sobre nossas reais necessidades. Quantas vezes paramos para planejar nosso futuro? Quanto tempo dedicamos a pensar estratégias que viabilizem projetos de vida? Quando não paramos para refletir sobre a vida nos comportamos como as inúmeras espécies vivas que os biólogos estudam. É a reflexão, a palavra e a ação escolhida que nos diferencia das demais espécies. Precisamos parar para observar e perceber o impacto de nossas escolhas sobre o nível de preços, o nível de atividade, a taxa de juros, o volume de lixo e o desmatamento que causamos.
Isso mesmo! Nosso eco-social-sistema resulta de escolhas, de trocas, de parcerias e de regras que podemos definir individualmente ou coletivamente. Em nada nos parecemos com a bactéria africana. Dependemos mutuamente. Necessitamos dividir o trabalho com sabedoria e eficiência. Muitas vezes o saber fazer não deve ser determinístico e sim o fazer melhor. Saber fazer não é fazer bem. Vejam como exemplo a produção de trigo no Brasil. Somos menos eficientes que nossa parceira comercial, a Argentina. Gastamos muito trabalho e terra para produzir quantidades de trigo significativamente inferiores quando comparamos com a rentabilidade de uma fazenda portenha. Como resultado é muito vantajoso utilizar nossas terras no cultivo de soja e com a comercialização desta obter recursos para a compra de trigo dos nossos vizinhos. Mas, saber fazer e poder fazer trigo nos confere poder de negociação uma vez que com preços elevados, se cobrados pela Argentina, podemos preferir produzir nacionalmente o trigo necessário. Em nossas empresas, somos diferentes?
Pensando nestas questões e na necessidade de começarmos a pensar em como promover o decrescimento econômico, coloquei ao lado o link da GoBiking, uma empresa de turismo ciclistico!

domingo, 26 de junho de 2011

Paulo Renato

Sou professora universitária desde 1988. Desde que comecei, perguntava em sala de aula aos alunos para identificarem um nome de um educador que não fosse o Paulo Freire. Nenhuma resposta. Depois, perguntava nomes de economistas que considerassem importante. Vários nomes eram lembrados. Ao final, concluia: um país não se faz com grandes economistas. São necessários grandes nomes de educadores!
Paulo Renato reunia essas duas qualificações. Por mais polêmica que tenha sido sua passagem no Ministério da Educação, existe o antes e o depois de Paulo Renato.
Em grossas linhas, ele minimizou os entraves burocráticos e permitiu uma rápida expansão do número de vagas no Ensino Superior, apontou falhas e desperdicios de recursos nas Universidades Federais, criou e valorizou o sistema de avaliação, criou os cursos sequenciais e tecnológicos, criou a figura dos centros universitários, valorizou a titulação de Mestres e Doutores e chamou a atenção da sociedade para a formação de nossos cidadãos. Se não fez mais pelo ensino fundamental e médio foi por que cabe às esferas municipais e estaduais a gestão destes níveis.
Como economista, Paulo Renato estava ciente da importância da formação de quadros profissionais competentes e da necessidade de ofertar mão de obra qualificada para construir um país capaz de crescer sustentadamente e com distribuição de renda. As políticas afirmativas não se comparam à transformação estrutural que o acesso à educação é capaz de processar.
Mas, uma justa homenagem a este homem público seria completar as reformas por ele iniciadas.
Houve uma grande mudança tanto nos critérios de avaliação quanto na forma de ofertar novas vagas no ensino superior durante o governo Lula.
Essa mudança reflete um posicionamento ideológico e também reflete mudanças conjunturais. A necessidade de realizar grandes superávits primários não deixou espaço para o crescimento de despesas públicas com a educação. Desta forma, o papel de ofertar novas vagas coube ao setor privado. Como o acesso à educação modifica não apenas o nível de renda futura como também a empregabilidade, as despesas com a educação devem ser vistas como investimentos pessoais. Considerando que os ganhos são apropriados privadamente, nada mais justo que os gastos também o sejam. Desta forma, justificava-se o crescimento das vagas pagas no ensino superior e criava-se o FIES como único instrumento de acesso ao Ensino Superior Privado para aqueles que não logravam exito em passar nos vestibulares em Universidades Públicas.
Com a adoção de um regime de cambio flexível (que permitiu controlar a taxa de juros doméstica) e uma mudança na composição da Dívida Pública (Aumentando a composição de títulos pré fixados em detrimento dos pós fixados) tornou-se possível diminuir a pressão por superávits primários crescentes. No Governo Lula, a ampliação das despesas com o ensino Superior Público resultou em aumento no número de Instituições e Vagas. Foi criado o PROUNI que garantiu o acesso às Universidades Privadas para alunos da rede pública e o FIES foi aprimorado (fiador solidário , redução de juros, etc.). E, contrapondo ao que foi dito acima, entendendo que os ganhos resultantes da educação não são privadamente apropriados e sim coletivamente, nada mais justo que utilizar recursos públicos e financiar o acesso à educação.
De acordo com a Sinopse de 2009, hoje temos 2314 instituições (entre Universidades, Centro Universitários, Faculdades Isoladas e outros)com
1.732.613 ingressos e 5.115.896 matrículas com 826.928 concluintes. Em 1994,os números eram bastante acanhados: 463.240 ingressos e 1.661.034 matrículas com 245.887 concluintes. Esses números, reflexos da enorme mudança no cenário educacional brasileiro, só foram possíveis em função do aumento nas vagas.
O crescimento de 209% no número de vagas no ensino superior no periodo 1994-2002 foi o que permitiu um crescimento de 90% no número de concluintes e hoje, podemos mensurar e comparar o desempenho das Instituições de Ensino em seus diferentes níveis (fundamental, médio e superior) ao logo dos Governos passados.
Polêmico sim. Mas, sem dúvida alguma, Paulo Renato transformou esta nação e promoveu o debate e valorizou a educação.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Só mesmo quebrando pratos......

Se eu fosse Grega, agora ia querer atirar alguns pratos por ai.... Piadas à parte, a imprensa local exalta resultados das bolsas como reflexo de um enstusiasmo acerca das negociações com a Grécia. Quer me parecer que os agentes privados estão correndo de ativos Gregos e buscando alternativas de aplicação... Talvez por isso o rEsultado das bolsas?
No entanto, a situação da Grécia inspira mais preocupação do que a impreNsa brasileira parece estar dando.
A situação é simples: o pacote de ajuda da Europa/FMI não previa uma mudança no comportamento dos credores Gregos. Me parece que também não houve uma correta e transparente explicitação da exposição de Bancos e Agentes Europeus. Assim,à medida que foi ficando claro que o pacote de ajuda subestimou as necessidades gregas, a preocupação dos Governos de nações Européias se reacendeu.
Para a Alemanha, seria necessário um alongamento da dívida. Portanto, os detentores de títulos da dívida Grega deveriam concordar em trocar títulos com vencimento no curto prazo por novos títulos com vencimento em prazos mais longos. Para aqueles que aplicaram seus recursos em títulos Gregos, o alongamento compulsório da dívida equivale a uma perda comparável ao que no Brasil chamamos de "confisco" na era Collor. Mas, o mesmo alongamento significaria prazo e fôlego para o Governo Grego e um voto de misericórdia a favor da população Grega.
O interessante é observar que o Banco Central Europeu se opôs veementemente à proposta e atuou no sentido de convencer a Alemanha de que esta não seria uma boa alternativa. Quais os motivos desta escolha? Seria pelo conhecimento inerente à supervisão das Instituições Financeiras dos detentores privados de títulos da dívida grega de um grau de exposição e risco indesejado? Seria a percepção de uma elevada probabilidade de contágio? Seria parte de uma estratégia de fortalecimento do Euro e de ativos denominados em Euro como forma de internacionalização monetária e competição com o dólar?
Alguém imagina quais seriam as motivações do BCE?

terça-feira, 21 de junho de 2011

Tragédia no lugar de comédia?

A contínua valorização do real significou às empresas exportadoras não apenas um encarecimento do preço de seu produto em dólar, com conseqüente diminuição nas vendas, mas também uma diminuição na receita quando convertida em reais. Desta forma, manter uma taxa requerida de retorno tornou-se uma difícil arte. Para a grande maioria a manutenção da taxa exigida de retorno pelos acionistas significa compensar perdas operacionais com ganhos financeiros. Assim sendo, muitas das empresas brasileiras estão expostas a operações cambiais de considerável risco. Obviamente a continua valorização do real confere uma aparente estabilidade para estas operações tornando a aposta óbvia.
Mas a crise Grega e as possibilidades de contágio apontam para a ausência de obviedade deste jogo.
Sabemos que após a crise de 2008, Bancos e Empresas financeiras e não financeiras buscaram diminuir seu grau de exposição e ampliar a liquidez de seus ativos. A crescente demanda por moeda de reserva (resultante do esforço de ampliação da liquidez) garantiu ao Fed a possibilidade de financiar o Tesouro Americano em seu esforço de estimular a demanda agregada. Apesar disso, é razoável supor que há agentes financeiros pouco aversos a riscos e que permaneceram especulando em busca de ativos de elevado risco e retorno como os títulos da dívida Grega. O que não sabemos é em que medida a posse de títulos da dívida grega e a possibilidade de contágio podem levar a um “Double dip”!
No caso, e estamos aqui apenas especulando, poderíamos ver ocorrer no Brasil um pico de desvalorização do real e ver a história se repetir como tragédia e não como comédia. Diante desta probabilidade, mesmo que remota, seria altamente recomendado às empresas brasileiras mencionadas no início deste texto que diminuíssem seu grau de exposição ou buscassem estratégias defensivas.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Quinta feira passada encerrei a palestra para jornalistas falando um pouco dos cenários propostos pelo Banco Mundial (relatório Global Development Horizons 2011 - Multipolarity: The New Global Economy). No cenário, o banco trabalha com três hipóteses:
1. A manutenção do dólar como moeda de reserva internacional
2. A multipolarização monetária entre dólar, euro, iene e iuane
3. A criação de uma nova moeda de reserva
Mas, assistindo a uma palestra de Benjamin Cohen na semana passada, percebo a baixa probabilidade das duas últimas hipóteses. Por isso, escrevo para que possamos atualizar e discutir esses cenários.
Os elementos que me fazem pensar em atribuir uma probabilidade maior à primeira hipótese para o curto prazo podem ser assim resumidos:
Com relação ao Dólar
• Em julho o FED encerra a política de acomodação monetária e o dólar tende a parar de se desvalorizar
• Os títulos americanos oferecem ainda boa alternativa de aplicação em função de sua liquidez
• O tamanho da economia americana em comparação às demais
• O desinteresse das demais economias em ver se desvalorizar suas reservas internacionais
Com relação ao Euro
• A fragmentação de interesses Europeus
• A ausência de um instrumento financeiro de alta liquidez que se compare aos títulos americanos
• O tamanho da economia européia
• UMA economia européia? : ainda não há clareza acerca da manutenção do atual desenho tendo em vista que cresce o estímulo a países como a Grécia de sair da zona do Euro.
Com relação às demais moedas
• Ausência de demanda significativa no mercado mundial por moedas como Iuane, Iene ou Real.
• A ausência de um instrumento financeiro de alta liquidez que se compare aos títulos americanos.
Com relação à criação de uma nova moeda (proposta no G20)
• Incertezas sobre a composição dos ativos que lastrearão a nova moeda
• Incertezas acerca da Instituição que se responsabilizará pela emissão da nova moeda.
• Necessidade de criação não apenas de uma nova moeda, mas também de um novo ativo financeiro de alta liquidez
• Incerteza acerca das relações de poder e comando da nova Instituição

Neste contexto, as incertezas com relação às alternativas fazem com que a manutenção dos negócios em dólar seja a opção mais provável. Até por que as variações (ou no jargão econômico a variância) tendem a ser menores e eliminam riscos desnecessários.
Contudo, diante do exposto, também é razoável acreditar que é pouco provável uma mudança brusca na condução da política monetária norte americana. Exceto por uma tentativa de controlar o crescimento nos preços e estimular a demanda monetária internacional, a desvalorização do dólar atende aos interesses de recuperação da Economia Americana.
Desta forma, considerando que ao Brasil interessa essa recuperação ( apesar do déficit comercial com os EUA, a qualidade da pauta de exportações brasileiras para este país favorece os setores de maior valor agregado), resta-nos a resignação de conviver com um real apreciado ou com sua alternativa (uma desvalorização cambial, um regime de cambio fixo, inflação).
No entanto, parece-me que o governo decidiu abrir a caixa de pandora e utilizar instrumentos microeconômicos em detrimento de alterações macroeconômicas que podem ser percebidas como um aumento no risco país. Uma das medidas já anunciadas prevê a criação de um Grupo de Inteligência Antidumping como forma de subsidiar a indústria nacional na instrução de processos internacionais respeitando as regras da OMC.
Ressalto ainda a ausência de um debate ou de um Consenso Nacional sobre nossa estratégia e política de crescimento a exemplo do Consenso de Washington e do Consenso de Beijing. Soube que o prof. Luiz Carlos Bresser Pereira (meu ex-orientador) vem trabalhando neste sentido e discutindo oportunamente formas de neutralizar a apreciação cambial.

Câmbio flutuante sim, idiotice não!

Em palestra ministrada semana passada, discuti com um grupo de jornalistas o tema " Economia Brasileira e sua inserção internacional".
Há farto referencial teórico sobre Economia Internacional e vantagens e desvantagens nas trocas internacionais.
Se por um lado, podemos discutir as vantagens indiscutíveis de trocar produtos com vantagens comparativas, também podemos defender a necessidade de manutenção da produção de bens apenas com vantagens absolutas como estratégia de negociação (em casos de uma negociação desfavorável, poder abastacer ao menos parcialmente o mercado nacional é em si uma possibilidade vantajosa). Por outro lado, as evidências de uma troca desigual e favorável aos produtos manufaturados levou a estratégias diferentes de industrialização. Enquanto isso, para produtos agrícolas com fraca competição internacional, o resultado em termos de valor agregado equivalia ao resultado de manufaturados. O que quero dizer é que para quaisquer referenciais teóricos, há excessões à regra. Metodologicamente isto é claro: teorias são generalizações de fatos fartamente observados.
De um ponto de vista mais pragmático, os países competem! E competem utilizando estratégias diversas de políticas macroeconômicas e microeconômicas. No arsenal macroeconômico estão a definição da Política Fiscal, da Política Monetária, da Política Cambial, da Política de Rendas e o controle dos preços (para controlar a taxa de cambio real). Mas, há também uma vasta opção de instrumentos de Política Microeconômica que podem ser utilizados para fortalecer os negócios internacionais e favorecer o crescimento econômico do país. Entre estes estão: a definição de Tarifas, de Restrições Aduaneiras,escolhas de Nacionalização ou Privatização, regras para IDE e Regulação.
Nesse sentido, o anúncio do governo de criação de um Grupo de Inteligência que deverá reunir informações para subsidiar solicitações de Processo Antidumping, respeitando as regras da Organização Mundial de Comércio deve ser calorosamente recebido! É uma forte demonstração de clareza por parte do Governo de que mesmo respeitando o funcionamento de mercado para a taxa de cambio, devemos estar atentos e não expor desnecessariamente nossos produtores domésticos a um mercado que nem sempre funciona corretamente!

quarta-feira, 15 de junho de 2011

O número 11

Há alguns anos recebi um daqueles emails com uma apresentação em anexo fazendo graça com o número 11. Lembro do 11 de setembro, do número do Maluf nas eleições.....
Todos episódios passados. No entanto, há um 11 no porvir que deveria ser objeto de preocupação! No próximo mês, no dia 11 de julho (uma data que é para mim fatídica por outros motivos....é véspera de ficar mais velha!) haverá provavelmente uma reversão na política de acomodação monetária norte americana.
Caso não haja uma alteração, como o anúncio da continuidade das medidas adotadas até o momento, a tendência é estabilizar um pouco a taxa de cambio. A valorização do real ficará por conta das medidas domésticas de contenção da inflação.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Dívida Pública Interna

Os dados da dívida pública doméstica mostram um crescimento do saldo do mês de abril em relação ao mesmo mês do ano anterior de 11%. Contudo, considerando os valores nominais deflacionados pelo IGP-DI mostram não ter havido variação significativa no tamanho da dívida. Considerando o crescimento do PIB, a evolução da razão dívida/PIB sugere equilíbrio e sustentabilidade no financiamento da mesma.
Os dados mostram uma mudança na composição da dívida. Houve uma diminuição da dívida em mãos das Instituições Financeiras e Fundos de Investimento (-13 e -4% respectivamente) enquanto que o saldo para Não Residentes, Seguradoras e Previdência cresceu no mesmo período (27, 23 e 15%).
A participação da posse de títulos da dívida para não residentes em relação ao total era de apenas 5,1% do total em dezembro de 2007. Hoje, os não residentes participam com 15,9% do total da dívida a despeito da elevação no IOF. Mesmo quando excluímos a participação do Governo do total, encontramos um crescimento expressivo na participação de Não Residentes no total de 12,6%.
Quanto à participação do Governo no total, vale explicar que desde dezembro de 2010, o Governo detém em torno de 10% do total da dívida mobiliária. Fundos como o FAT, FGTS, Fundos Extramercados, Fundos Soberanos e Fundos Garantidores aplicam seus recursos em títulos da dívida pública federal.
Para o mesmo período, a dívida pública externa descresceu 11%.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Multipolarização Monetária

Devo ter falado sobre isso antes.... mas, ultimamente tem sido meu assunto preferido!
A constante queda do dólar parece ter prazo para acabar....Junho termina a política de acomodação monetária do FED...
Enquanto isso, parece que a internacionalização do Euro enfrenta restrições (veja o excelente artigo escrito pelo prof.Luiz Carlos Bresser Pereira sobre o assunto em seu site:http://www.bresserpereira.org.br/view.asp?cod=4501).
O risco para empresas e capitais internacionalizados que negociam nestas moedas está cada vez maior. Explico. Uma empresa que opera na Ucrânia, por exemplo, deve trocar as Hyvnias (moeda local) por dólares ou euros antes de convertê-las em moeda local (o Real seria o exemplo se a empresa fosse brasileira). Neste caso, uma apreciação cambial nas Hyvnias aumentaria o lucro em dólares. Contudo, a conversão para reais as diminuiria. O tempo, aquela variável que ninguém controla, torna-se o elemento que determinará se as apreciações se anulam, se determinam ganhos em janelas de oportunidade ou perdas. Manipular o câmbio criaria janelas de oportunidade para a realização das operações... Enquanto isso, apesar de desvalorizado, o Yuane ganha mercado e a moeda Chinesa se internacionaliza...
Alguma estratégia em vista para a moeda brasileira????

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Preços Administrados

Ainda sobre a movimentação de capitais internacionais, chama a atenção o potencial de fusões em uma economia que se recupera, com perspectivas de crescimento, em um cenário internacional preocupante.
Entre os fatores que permitem a existência de negócios atraentes estão as previsões de crescimento e a existência de assimetrias de informação.
No passado, em alguns setores foi a existência de contratos que permitissem ou garantissem reajustes de preços pelo IGP-M ou por equivalência de preços no mercado mundial que garantiu a atratividade dos negócios.
Hoje, a existência de indexação faz crescerem os preços administrados bem acima da média da inflação.
A indexação cria inúmeras distorções. A primeira distorção é alocativa, pois desestimula investimentos em setores cujos preços são livremente negociados. Operando com um regime de metas, quando os preços sobem sinalizando uma inflação acima da meta, o Banco Central eleva a taxa de juros, desestimulando a atividade econômica e promovendo o ajuste na média ponderada de preços alvo (meta inflacionária) com redução mais do que significativa nos preços livres, reduzindo a lucratividade nestes setores. A diminuição na lucrativadade desestimula investimentos reduzindo a oferta futura nestes segmentos. A segunda distorção é temporal. Um aumento nos preços, causado por problemas momentâneos como alterações climáticas, tende a se perpetuar. Conhecemos esse fenômeno como inflação inercial e em econometria, dizemos que o processo inflacionário pode ser expresso como um processo com raiz unitária. A terceira distorção se refere aos consumidores e seu poder de compra. Os reajustes de preços indexados tornam os preços no Brasil superiores aos preços praticados internacionalmente e tornam a vida dos Brasileiros mais cara.
O resultado esperado de um diagnóstico como este seria denunciar os contratos que garantem a indexação para renegociá-los em bases mais adequadas. Mas, por que afinal permitimos a indexação?
Por trás dos processos de privatização das empresas estatais, estava a necessidade de realizar para o Estado Brasileiro um ajuste patrimonial. A venda de ativos do Estado permitiria a redução do endividamento e, com isto, uma redução no risco país, na taxa de juros, e da necessidade de aumento na arrecadação. Portanto, naquele momento, a aceitação de contratos que permitissem uma projeção de fluxo de caixa sem o risco da inflação, permitiria condições mais favoráveis de negociação.
No contexto atual, a indexação é uma insanidade que ameaça a estabilidade do controle de preços e as expectativas de crescimento econômico. Contudo, a denúncia dos contratos deve levar em conta as condições de negociação anteriores e a viabilidade desses negócios. Trata-se portanto, de uma escolha díficil em que, em um lado está a população arcando com os custos inflacionários e, de outro, a credibilidade e confiança que - sendo abaladas por uma denúncia de contrato - ampliam os riscos de negócios com o Brasil.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Instabilidade e Cenários

O aparente clima de tranquilidade no cenário nacional não encobre as dificuldades crescentes e as tensões no cenário global.
Vejo poucas matérias que alertam o empresário, a dona de casa, o investidor local, enfim, o cidadão brasileiro dos riscos e incertezas atuais.
Ainda fresca em nossa memória estão as tintas da crise da dívida, o desemprego e as necessidades de ajuste da economia brasileira. A lembrança nos permite sentimentos de solidariedade e preocupação para com aqueles que atravessam este momento agora. Assim, assistimos com agonia as dificuldades da Grécia e Portugal em enfrentar e renegociar suas dívidas.
Alguns se preocupam com as possibilidades de contágio e observam aflitos se há sinais de crise nas economias francesa e alemãs, as mais robustas da União Européia.
A ausência de turbulências na economia americana mascara as dificuldades em retomar o crescimento econômico e oferecer empregos. Em verdade, a evolução da dívida americana ameaça a continuidade do atual padrão monetário internacional e a imagem e ascendências americanas sobre a condução de políticas locais e acordos internacionais. Um ativo muito precioso que hoje está ameaçado.
Brasil, India, Russia, China entre outros países aparecem como espaços oportunos para a realização de investimentos e alternativas de valorização da riqueza em um momento no qual há grande incerteza relacionada à aplicação em títulos de dívida de países europeus, americanos e derivativos diversos.
Aparentemente, o esgotamento da estratégia de valorização com especulação em derivativos vai se canalizando para commodities (há bastante controvérsia sobre este ponto) e para inversões em economias com bons projetos de invesão e retorno.

domingo, 15 de maio de 2011

Bolsas de Estudo - Programa Eurias

Termina dia 31 de maio o prazo para inscrições para o programa de bolsas Eurias (European Institutes for Advanced Study). As bolsas tem duração de 10 meses para pesquisadores junior e senior. Maiores informações no link abaixo.

http://www.2012-2013.eurias-fp.eu/call-applications-0

sábado, 14 de maio de 2011

Dudu: a cobra!

Adoro a cobra Dudu da tirinha "As cobras"! Sempre apocalíptica... Hoje, estou um pouco "Dudu". Acordei com a estranha sensação de que há movimentos quase imperceptíveis que sinalizam um futuro mais difícil.
Em parte esta sensação deriva da crença que cedo ou tarde veremos uma elevação de juros no mercado mundial. Ainda, de acreditar que em breve findará a política monetária expansionista praticada pelo FED. No cenário, ainda aparecem a crise dos PIIGS (Portugal, Italia, Irlanda, Grecia e Espanha) e o risco de contaminação entre estes e o restante da Europa.
No Brasil, parece inevitável continuar a elevar os juros. Parece ser uma tendência assistir uma elevação de juros, de câmbio e queda de bolsa.... Será?
Não sou especialista em movimentos sociais. Mesmo assim, arrisco dizer que há uma deterioração de valores e atitudes que ameaçam a estabilidade social...
Bem, melhor corrigir provas e parar de pensar....

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Quando comprar dólares?

Uma amiga que pretende viajar para a Europa em julho me perguntou o que era melhor: comprar dólares ou euros?
Boa pergunta!
Quando me preparo para uma viagem, primeiro faço um orçamento . Quanto vou/posso gastar mais ou menos a cada dia. Depois tento prever o que vou precisar em dinheiro e o que posso gastar em cartão de crédito.
Já faço diferente de muitos. A grande maioria de meus colegas prefere não gastar no cartão de crédito. Mas, o cartão apresenta grandes vantagens mesmo com a cobrança do IOF mais elevado. Primeiro, o cálculo é feito utilizando como referência o dólar comercial (em geral a PTAX) mais barato que o câmbio turismo. Depois, a grande maioria dos cartões oferece bônus a cada dólar gasto. Se você comprar dólares em espécie ou carregar um cartão pré pago você não terá direito ao bônus e tampouco pagará o dólar pelo câmbio comercial.
Façamos uma simulação simples: Você vai gastar US$ 1.000,00 (hum mil dólares). Se for no cartão e o vencimento fosse ontem, esse valor seria 1.584,20. Se acrescentarmos o IOF, você pagaria R$1.593,70. Em geral o banco cobra mais algumas taxas... o valor varia de administradora para administradora de cartão de crédito.As tarifas pelo uso do cartão internacional teriam que ser superiores a R$72,00 (setenta e dois reais) para valer a pena comprar comprar dólares e levá-los. Vale a pena perguntar. Não se esqueça que você acrescentaria mil pontos de bônus para retirar em prêmios diversos (inclusive passagens para uma nova viagem).
Se você fosse comprar dólares ou carregar um cartão pré pago, você pagaria em torno de R$1.666,00
No caso dos cartões pré pagos, você pagará mais caro o carregamento e, além disso, é cobrada uma tarifa para saque no exterior em torno de US$4,50 (quatro e cinquenta).
Além disso, como a tendência é de valorização do real e a taxa de juros brasileira é bastante elevada, enquanto viajamos nosso dinheiro fica rendendo em aplicações financeiras. Na volta, ainda podemos comprar dólares mais baratos! Claro que há o risco de uma alteração na conjuntura econômica.... Mas, jornais e revistas especializadas estão recheados de dicas nestas situações.
Ponderando essas questões, eu opto por usar o cartão de crédito sempre que possível. Carrego um pouco de dinheiro em espécie caso eu tenha problemas com o cartão e levo sempre um cartão pré pago que é a forma mais fácil de conseguir mais dólares no exterior. Há, quase me esqueço, há cartões de movimentação de conta corrente que são associados à rede Cirrus. Nestes casos, é possível sacar dólares no exterior direto de sua conta corrente. Pergunte ao seu gerente se você tem essa opção, qual a taxa de câmbio utilizada (normalmente é o câmbio turismo) e quais as tarifas que serão cobradas.
Quanto à pergunta que originou este texto, a resposta é simples. Em cada país há regras para a fixação da taxa de câmbio. Em alguns países a regra é fixa e em outros é flexível. Ou seja, a taxa de câmbio depende da quantidade oferta e demandada de cada moeda.
No Brasil a taxa para o dólar comercial é de R$1,5842 e para o euro comercial R$2,2880; já na Europa, a taxa para a compra de Euros está em US$1,4450. Se você comprar dólares no Brasil e for trocar por Euros aqui, você pagará US$1,4442. A diferença é muito pequena neste caso. Mas imagine que você comprou dólares no Brasil e, chegando na Europa, uma elevação da taxa de juros do Banco Central Europeu atraia mais dólares barateando-os. Neste caso você fez um péssimo negócio. Você vai precisar de muitos mais dólares para trocar por Euros. Mas, um aumento na taxa de juros nos Estados Unidos terá o efeito contrário!!!!! Como é difícil prever estes acontecimentos, aconselho a comprar a moeda local!

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Matrículas no Ensino Superior

Dados do Censo da Educação Superior mostram que ao longo dos anos 2003-2009 houve uma expressiva queda na relação ingresso/vaga oferecida sugerindo ter havido um crescimento significativo na oferta de vagas não acompanhado por um crescimento na demanda.
De fato, o crescimento das matrículas diminuiu!
O elevado preço das mensalidades escolares explicaria o percentual baixo de alunos com idade para cursar uma faculdade efetivamente matriculados. Bem, nos últimos anos assistimos um esforço legítimo para aumentar a inclusão e as matrículas no nível superior. A criação do PROUNI, a redução dos juros praticados pelo FIES, a aceitação de fiadores solidários e o aumento significativo das vagas oferecidas em Universidades/Faculdades Públicas são o resultado desse esforço.
No entanto, o crescimento das matrículas se dá a taxas decrescentes. O que explica esse fenômeno?

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Medidas Macroprudenciais

Publiquei ontem no blog www.europeaneconomyissues.blogspot.com algumas preocupações relativas à condução da política monetária e, em especial, à política de metas inflacionárias.
Não me resta dúvida da eficácia do Regime de Metas. Mas, seguramente o sucesso da implementação do tripé de política econômica possui limitações e custos associados.
Anos atrás, o economista Jan Tinbergem era laureado com um premio Nobel por sua contribuição à teoria da Política Econômica. Um pequeno volume entitulado "Introdução à teoria da Política Econômmica" publicado em português oferece um receituário.
Como primeiro passo Tinbergen alerta para a necessidade de especificar objetivos de política econômica que maximizem o bem estar social. Em bom português: devemos definir objetivos que aumentem a qualidade de vida da população. Em bom economês: devemos, para fazer uma política ótima, explicitar uma função de bem estar social e encontrar seu ótimo condicionado.
O governo brasileiro percebeu nas urnas que o crescimento dos preços diminui o bem estar social (Tinbergen chama de indicador de preferência social). Desta forma, definimos como objetivo o controle do nível de preços. A escolha do instrumento recaiu sobre a taxa de juros e a determinação desta está vinculada a uma meta para a inflação e à observação de desempenho de indicadores diversos da economia.
A relação entre juros e inflação obedece a um quase mítico mecanismo de transmissão da oferta de moeda.
A elevação dos juros contrai a base monetária e contém movimentos de monetização entre os agregados monetários. Simultaneamente a taxa de juros exerce efeitos sobre as decisões de consumo e investimento. A relação com o consumo carece de aferição. Em parte, o consumo oscila conforme a disponibilidade de crédito. Mas, em parte o consumo é afetado pelo que chamamos de efeito riqueza. Uma elevação dos ganhos com aplicações eleva as despesas de consumo em prazos mais longos. Já os investimentos produtivos guardam relação questionável com a taxa de juros. A globalização e a criação de produtos financeiros cada vez mais sofisticados oferecem alternativas à captação de capitais de terceiros em mercados externos contornando elevações de juros no mercado local (refiro-me às operações de carry trade). No entanto, o impacto de uma elevação da taxa de juros sobre o mercado acionário tende a afetar o preço de compra de bens de capital elevando-o e tornando mais atrativos os novos investimentos produtivos.
Estes muitos parágrafos tem o intuíto de mostrar que a relação entre juros e preços se dá pela demanda agregada e não pela oferta.
Assim, uma elevação de preços relacionada a restrições na oferta de bens e serviços não deveria ser combatida com medidas de contração da demanda agregada.
Creio que em pouco tempo veremos o Banco Central Brasileiro anunciar uma flexibilização das metas de inflação para o ano de 2011 por esse motivo.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Europa

Como imaginado: o Banco Central Europeu elevou a taxa de juros de 1% para 1,25%! Mesmo pequeno, este aumento mostra o compromisso do BCE com a valorização do Euro e o combate à inflação.
Contudo, vamos à considerações.... A elevação dos preços não resultou de um excesso de demanda no mercado europeu. Portanto, a elevação dos juros, penaliza países como Portugal, Espanha, Italia, Irlanda e Grécia, sem contudo atacar as causas reais da elevação de preços.
Aparentemente, o BCE não relaciona a elevação dos preços das comodities à frouxidão da política monetária dos EUA...

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Qual taxa de juros?

Amanhã, o Banco Central Europeu fará uma difícil escolha acerca da nova taxa de juros. No último mês, o BCE anunciou que seria possível elevar a taxa de juros para, com isso, controlar a elevação dos preços. No entanto, países como Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha (os chamados PIIGS) precisariam neste momento de uma redução na taxa de juros com consequente desvalorização do Euro. Como resultado de uma política monetária expansionista, com regime de câmbio flutuante, a desvalorização do euro promoveria um aumento nas exportações, no nível de atividade e no emprego.
O que fazer? Controlar preços ou estimular o crescimento?
No caso da Alemanha e da França, uma elevação dos juros e valorização do Euro não comprometem o resultado em conta corrente do Balanço de Pagamentos. E, uma contenção de preços, apesar de reduzir o ritmo de crescimento, tende a aumentar os salários reais.
Alguns especulam que as diferenças entre as economias da União Européia levariam à saída de alguns países da zona do euro. Contudo, um olhar atento mostra que países como Portugal, por exemplo, ganham mais do que perdem em função de acordos comerciais. No mais, os PIIGS representam algo como 15% do PIB europeu!
Mas, o mesmo olhar atento, mostrará uma Alemanha fortemente dependente de exportações e com uma dívida de 75% do PIB. Também a Alemanha perde com a apreciação cambial! Seja por uma redução das exportações, seja pelo encarecimento na rolagem da dívida.
No mais, as expressivas monetizações do Tesouro feitas pelo FED, ao desvalorizar o dólar já valorizam o euro.
Portanto, dificilmente o Banco Central Europeu optará por um aumento da taxa de juros. Se a opção for pela elevação, está deverá ser pouco significativa.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Alemanha - Primeiro País da Viagem

A Alemanha foi o segundo maior país exportador do mundo em 2009 e 2010. Apesar do excelente desempenho econômico em 2010 o país foi fortemente atingido pela queda da demanda mundial durante a crise econômica mundial em 2008-2009. Em 2010, a economia Alemã cresceu 3,6¨%, depois de uma queda de 5% em 2009.
O país possui uma infra-estrutura bem desenvolvida e, apesar das dificuldades de um mercado de trabalho rígido, consegue ser competitiva.
As exportações respondiam por 58% do PIB antes da crise, passando para 38,5% em 2010. A elevada dependência das exportações tornou a Alemanha especialmente vulnerável à crise em 2008. A China é responsável pelo crescimento recente das exportações Alemãs, com fortes encomendas de máquinas e equipamentos . Atualmente o resultado em conta corrente é de 6,1 % do PIB com previsão de queda para 2011.

“A Alemanha é um membro da União Européia e da união aduaneira. Como tal, as políticas de comércio para toda a União Europeia são definidas pela Comissão Europeia em que cada país pode exercer as suas preferências comerciais, mas a UE como um todo apresenta uma política comercial única e global. Apesar de sucessivas rodadas do Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT) e a Organização Mundial do Comércio (OMC) derrubaram quase todas as barreiras tarifárias e não tarifárias na UE, ainda existem alguns setores que permanecem fortemente protegidos, principalmente na agricultura. Houve um aumento significativo nos acordos comerciais preferenciais da UE (PTAs) desde o final dos anos 1990 e sobretudo com a dificuldade das negociações comerciais multilaterais na OMC. “ (Euromonitor, 04/04/2011)
Em 2008, a Alemanha fez uma reforma fiscal com o objetivo de reduzir encargos tributários . Como resultado, princípios como o da neutralidade e equidade tributária foram atingidos. Além disso, o tempo gasto para preparar, registrar e pagar impostos caiu significativamente.
A competitividade Alemã se explica em parte em função de seu mercado de trabalho. A mão de obra alemã é relativamente barata quando comparada com países vizinhos. Além disso, não há salário mínimo obrigatório no país. No entanto, os salários mínimos são freqüentemente negociados através de acordos coletivos de trabalho nos diferentes setores e variam entre 6,5 € (9,3 dólares EUA) para € 12,9 (EUA $ 18,4), dependendo do setor. (Euromonitor)
Os pacotes de ajuda aprovados pelo governo Alemão para amenizar os efeitos da crise, ampliaram a dívida do país para 75,1% do PIB em 2010.
Apesar da dívida, a Alemanha está preocupada com o crescimento dos preços e com o controle rígido da política monetária. A contenção do valor do euro resulta em grande parte do rigor alemão frente ás crescentes pressões de países como Espanha, Italia, Portugal, Irlanda e Grécia.